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Os acordes e acordeões da música pimba piaram mais fino, os populares voltaram a cabeça curiosos e o convívio pincelou-se de exotismo, quando o alegado ex-segurança pessoal de Xanana Gusmão, chegou ao Parque da Comenda, palco para mais uma celebração de aniversário da Rádio Jornal de Setúbal.
Alto e musculado, cabelos mais negros que o petróleo dos mares de Timor e mais feio que um bode estrábico, a bizarra figura era, e possivelmente ainda será, o namorado da Elsa Lemos, a menina da rádio, naqueles anos do virar de século ...
A Elsa, doida por homens fardados, fossem polícias, bombeiros ou cantoneiros da Câmara de Setúbal, era a única mulher na redacção daquela que foi, durante dois anos, a rádio local com a melhor informação ao sul do Tejo.
Comprovadamente.
Éramos cinco e tal como os das histórias da Enid Blyton, éramos famosos. Não ao nível mediático, susceptível de publicação em revistas cor-de-rosa, mas famosos pelo profissionalismo, eficácia e omnipresença. Onde estava o acontecimento, estava um repórter da Rádio Jornal, por aqueles dias, uma autêntica TSF dos pequeninos.
Além da Elsa, havia o António Martins, o João Moço e eu, o primeiro a ser contratado. Todos liderados por essa grande figura do jornalismo e de Setúbal, que dava pelo nome de Rogério Severino. Falecido há mais de quatro anos, há-de merecer um post só para ele, um dia destes.
Éramos muito bem pagos, em relação a outras rádios locais. Trabalhávamos para merecer o ordenado e fazíamos cada vez mais e melhor. Por isso, éramos cada vez mais conceituados e não havia falta de gente a querer patrocinar programas, rubricas criadas por nós, tudo. A máquina funcionava e é assim que deve ser. Hoje têm medo de arriscar e as rádios definham. Enfim...
Quase todos ganhavam dois ordenados mínimos por mês, exceptuando o João Moço, que dava os primeiros passos no jornalismo e o Rogério - que sem saber dava os últimos - que era pago a peso de ouro. E com os diabos, merecia cada centavo e, mais tarde, cada cêntimo.
O homem parecia uma agência de notícias numa só pessoa. Tinha uma rede de contactos, afinidades, conhecimentos e favores em dívida, como nunca houve e nunca vai haver em Setúbal.
Freitas do Amaral, Durão Barroso, Cavaco Silva, Pedro Santana Lopes, Jorge Sampaio e muitos outros do mesmo nível, foram entrevistados, aqui e ali, pelos intrépidos repórteres da Rádio Jornal.
Chegámos a interromper plenários, simpósios, seminários para garantir entrevistas em directo, telemóveis em punho, adrenalina à solta.
Bons velhos tempos.
4 comentários:
Porque os preteritos?
O que correu mal?
nf
n.f:
Boa pergunta.
Saudade, é a palavra que invade o meu pensamento quando recordo os tempos em que respirava noticias na redacção da Rádio Jornal. Bons tempos de uma equipa válida que trabalhava com vontade e que fazia tremer políticos e dirigentes associativos, devo muito desses tempos ao Rogério, João Paulo e António.
Ainda por cima, nesses tempos dourados de jornalismo em Setúbal, assistimos a factos importantes para a cidade e o mundo, basta referir que o famoso “ano da besta” foi fértil em tragedias, 11 de Setembro, e que acompanhamos a queda de Mata Cáceres o intocável presidente socialista que referiu muitas vezes que perdeu as eleições na RJS.
Mais uma vez, Saudade…
João:
Quando estamos motivados (e bem pagos), movemos montanhas.
Parece que esses tempos não voltam.
Infelizmente.
Um abraço.
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