28 fevereiro 2008

Sexy Singers dos Anos 80 # 11 - Kylie Minogue

O Eldorado - Edição nº 212

Dizem as estatísticas que nunca estive tanto tempo sem escrever neste blogue.
E sublinho "neste blogue" porque tenho escrito um pouco por toda a parte, exceptuando aquelas mensagens mais ou menos obscenas e abichanadas que se leem nas portas das casas-de-banho dos centros comerciais.
Também não tenho escrito nas paredes lá de casa, embora por vezes me apeteça.
"SALVEM-ME!", em grandes parangonas vermelhas, parece adequado aos acessos de melodramatismo e mistério que, de quando em vez, chocalham-me os neurónios.
Dizem também as estatísticas que as "Sexy Singers dos Anos 80" não cantavam aqui desde 22 de Janeiro...
Para o diabo com as estatísticas.

Kylie Minogue - Antes de acabar a tasquinha deste ajuntador de letras que vos escreve, há que levar até ao fim esta rubrica saudosista de melodias entoadas por sereias que, passados 20 anos, já descamam porque o tempo não perdoa.
Hoje temos a Kylie Minogue, essa bonequinha australiana de metro e meio de altura que, depois de vencido um cancro da mama, contrariando o que escrevi acima, ainda está aí para as curvas.
E que curvas! Tudo muito compactozinho para ser mais fácil arrumar lá em casa.
É claro que ajuda muito ter "só" 39 anos - o que faz dela a mais nova cantora trazida a esta rubrica - sendo que os 40 anos daquela que em alguns pontos de Portugal ficou conhecida como "Carla Minorca" vão ser assinalados a 28 de Maio, daqui a exactamente 3 meses.

Actriz da famosa série "Neighbours" que chegou a ser transmitida pela RTP nos anos 80, Kylie foi mais tarde convidada para revisitar o tema "Locomotion" cujo vídeo surripiei ao YouTube e está aí em baixo. Foi o seu primeiro hit numa altura em que Kylie ainda não tinha 20 anos. Seguiram-se mil e um sucessos, travessias no deserto e sempre grandes comebacks assentes num dos maiores casamentos voz/corpo da música pop.
Miminhos para os olhos e os ouvidos.

Sobre o Vídeo - Desta vez não há muito por dizer até porque já todos conhecemos de cor as imagens de marca dos anos 80. Estão cá todas: cantoras bonitas com glamour, permanentes que obrigavam cabeleireiros a horas extraordinárias, grafittis berrantes nas paredes, coreografias de gosto discutível, pop melódica, modelitos copiados do "Flashdance" e da série "Fama" e muita, mas mesmo muita boa onda.
Mal sabiam eles que 20 anos depois andaria tudo deprimido, por exemplo, a contar tostões para a gasolina que aumenta quase todos os dias...
Kylie, bela miss hobbit: Dá-lhe gás.

19 fevereiro 2008

Fumo Molhado

O Eldorado - Edição nº 211

Eu não fumo mas fumego pelas orelhas com notícias molhadas como as de ontem.
Então entre mortos e feridos, desalojados e desaparecidos, carros arrastados e casas caídas, tudo por causa das cheias, onde estão as notícias sobre o desaparecimento dos fumadores à porta de cafés e restaurantes?

Como jornalista, que alguns acusam de meia tigela (mas debalde o fazem, o que acho bem porque há que tirar a avó daquela poça de água que já pôs o frigorífico a boiar) parece-me pertinente fazer o rescaldo verde de uma situação que não foi abordada.

Tenho conhecimento que dezenas - que digo? - centenas de fumadores foram arrastados pelas cheias, ainda de cigarro orgulhosamente aceso, como se fossem portadores da tocha olímpica dos vícios discriminados.

Só em Setúbal, vi com estes olhos que a terra há-de comer, menos o de trás, várias dezenas de fumadores a deslizar junto à Praça do Bocage, rumo ao Sado, com direito a mergulho pontuável por júri internacional, como se Setúbal tivesse finalmente um Aquaparque à altura da sua histórica capacidade de meter água em quase tudo.

Vi gente em cima de árvores a enrolar charros e botes de salvamento com o célebre dístico de "Não Fumadores", inviabilizando o resgate de três tuberculosos que acendiam cigarro com cigarro como se não houvesse amanhã.
Lamentável, senhores.

Alguns restaurantes, que já disponibilizavam um casaquinho e alguns pares de cinzeiros para os adictos se sentirem num gulag mais simpático à porta dos restaurantes, passaram também a ceder algumas bóias e patinhos de borracha.

Cafés de proprietários xico-espertos e com jeito para o negócio engendraram promoções do género "Bica e bagaço - 1 euro ; dá direito a um par de barbatanas".

Enfim, Portugal, como sempre, adaptou-se às circunstâncias, mas repito: há dezenas de fumadores desaparecidos e pior que deixarem putos para criar e contas para pagar, é saber que alguns, estejam onde estiverem, só têm tabaco para mais umas horas.

Por isso, se és fumador e estás perdido algures debaixo de uma ponte submersa, à beira da hipotermia e - ó céus! - sem tabaco, não desesperes.
Em breve, um cardume de sereias a estagiar na Autoridade Nacional de Protecção Civil passará por aí com alguns maços de tabaco.
Mas parece que já só há SG Ventil.

15 fevereiro 2008

Três histórias de amor com calças de ganga, coelhos e peúgas brancas

O Eldorado - Edição nº 210

Em tempos namorei com uma peúga branca.
Talvez não seja de muito boa educação começar logo assim...
Ok, o meu nome é Pedro, tenho 18 anos, sou gordo, vesgo, fanhoso e tenho uma perna mais curta que outra, já não me lembro qual, porque passo o tempo deitado.
Hoje estou na quinta dos meus avós, em Benavente.
E ontem, Dia dos Namorados, estava na quinta dos meus avós, em Benavente.
E amanhã vou estar na Quinta dos meus avós, em Benavente.
Eu nunca saio de Benavente.
Nem da quinta dos meus avós.
Enfim, ontem lembrei-me, choroso, que nunca tive uma namorada.
Mas já namorei com uma peúga branca.
Andava - maneira de dizer - com ela enfiada no bolso das calças de ganga coçadas, como se fosse o meu amor de bolso.
Conhecia-a em Setembro de 2001 e ela disse-me que morava antes numa loja da Zara.
Namorámos um ano e meio até a paixão ficar gasta a ponto de romper pelos pontos.
Desse amor restou um buraco no meu coração e outro no seu calcanhar.
Mas a vida continua e hoje estou apaixonado por um abre-latas.


Estavam casados há 43 anos e tinham 60 cada um.
60 anos e 60 queixas por dia, onde o caruncho nas articulações era do mal o menos.
Ela, ainda e sempre apaixonada.
Ele, manietado pela rotina e afundando-se em qualquer coisa parecida como areia movediça que se enfiava pelo cós das calças de ganga e provocava um eterno prurido que apetecia coçar até deitar sangue.
Faziam criação de coelhos já nem sabiam muito bem porquê, mas não tinham condições para criar elefantes e então coelhos seria, daria menos trabalho.
Sexo não havia, mas cada um deles mantinha à cintura o seu velho exemplar.
- Vou alimentar os coelhos, disse ele.
- Vou contigo, disse ela.
- Não tens roupa para passar a ferro? - perguntou ele.
- Não, disse ela.
E lá foram, um atrás do outro, tão vagarosamente que as lesmas ao passar por eles faziam corrente de ar.
- Sabes - disse ela - o nosso amor, às vezes, ainda parece uma cena de filme. Não achas?
Ele não amoleceu nem um bocado, e respondeu:
- Só se for um daqueles filmes de terror...
E era assim a vida de Anacleto Estronço e Carmelinda Vagalume.


E agora para os mais pequeninos...
Era uma vez dois coelhinhos cor de rosa com olhos de mel que gostavam de namorar um com o outro.
Não, não eram coelhos gay, não me expliquei bem.
Era um coelho e uma coelha cor de rosa, com olhos de mel e que gostavam de namorar.
E claro, vestiam calças de ganga.
Ele, Diesel. Ela, Salsa.
Passavam o dia a fazer o amor coelho, roçando os bigodes, entrelaçando orelhas e massajando aquele género de pompom que eles têm na cauda e que dá imenso jeito para limpar o pó dos móveis, se bem que seja esquisito limpar o pó dos móveis com coelhos, mas vocês é que sabem.
Até que um dia o sr. coelho disse que ia comprar tabaco e o tempo passava e o coelho não voltava.
Dona coelha, preocupada, foi à procura dele e antes não tivesse ido.
Encontrou-o na marmelada com uma meia branca esburacada que tinha sido deitada fora, mas para o sr. coelho, pelos vistos, ela não era nada de deitar fora.
E lá estava ele, de calças de ganga em baixo, no truca-truca com o pompom a balouçar.

E é por isso que em noites de lua cheia, D. coelha e a sra. Carmelinda Vagalume costumam ficar sentadas na velha pedra junto ao ribeiro, a falar da vida enquanto fumam charros.

11 fevereiro 2008

Um Fado de Sempre

O Eldorado - Edição nº 209

A propósito de uma sessão de cinema/tarde de fados no Auditório Municipal da Biblioteca do Pinhal Novo, de uma noite em frangalhos, e de um princípio de semana como não tinha há muito tempo, resolvi colar aqui um poema/letra de música de Chico Buarque.
Ele foi um dos cantores que desfilaram no excelente "Fados", de Carlos Saura, imenso teledisco de homenagem à canção que, para o bem e para o mal, tem embalado este país...

Arrepiante - entre muitos outros - o tema que Chico cantou, as imagens do 25 de Abril que continua por cumprir e as palavras de Carlos do Carmo.
Foi o momento que mais me tocou.
Fica então, em baixo, o belo poema de Chico Buarque de Hollanda.
Chama-se "Sempre".

"Sempre"

Eu te contemplava sempre
Feito um gato aos pés da dona
Mesmo em sonho estive atento
Para poder lembrar-te sempre
Como olhando o firmamento
Vejo estrelas que já foram
Noite afora para sempre

O teu corpo em movimento
Os teus lábios em flagrante
O teu riso,o teu silêncio
Serão meus ainda e sempre

Dura a vida alguns instantes
Porém mais do que bastantes
Quando cada instante é sempre

E agora, o trailer de"Fados", de Carlos Saura

08 fevereiro 2008

Quinta das Ratazanas

O Eldorado - Edição nº 208

Exceptuando a Buraca, a Pedreira dos Húngaros e a Cova da Moura, os bairros problemáticos da Grande Lisboa têm nomes enganadores: Quinta da Princesa, Quinta da Fonte, Bairro do Picapau Amarelo ou Bairro da Bela Vista, este em Setúbal.

Presumo que tenham sido só sorrisos no primeiro dia e dentes partidos nos seguintes.
E carteiras bem enfiadas nos bolsos, uma caçadeira de canos cerrados atrás da porta do quarto, alarmes a fazer lembrar Bagdad em 1991 e até penicos cheios daquele estranho cocó que a avó faz quando come pedaços de toucinho com favas.
Arranjaram-se cães ferozes e amedrontadores como dobermans, pit bulls e chihuahuas incadescentes.
E, quando tudo falhar, haverá sempre um terço no bolso para pedir à Nossa Senhora que faça chover canivetes afiados na altura do valha-me Deus.

Atendendo a esta bizarra situação típica do nosso Portugal, o "Eldorado" sugere, digo, aconselha vivamente, digo, exorta veementemente que, no momento de nidificar na Grande Lisboa prefira bairros com os seguintes nomes:
Bairro dos Facínoras Violadores; Quinta das Ratazanas; Bairro do Sol Ausente; ou Bairro dos Mortos-Vivos.
Se existirem, estes são os melhores sítios para se viver.

Pronto, era só isto.
Bom fim-de-semana e se saírem para aproveitar o sol, fechem bem a porta.

07 fevereiro 2008

Pizza, Amor e Fantasia

O Eldorado - Edição nº 207

As mulheres não gostam de futebol.
Não percebem o frenesim, o propósito, as regras. Quer dizer, as regras até percebem, mas apenas as que se referem ao seu ciclo menstrual.
Nessas ocasiões, até aproveitam para perceber melhor a lei do fora de jogo ao anunciar, com a seriedade própria de um ministro das finanças que "hoje não pode ser nada; o Benfica joga em casa".

Ainda assim, parte das mulheres gostam mesmo do Benfica, e do Sporting, do F.C. Porto, do Juventude Sarilhense ou do Ermesinde. Muitas mais seguem os jogos da selecção, pois até tem lá o Ronaldo e, enquanto este não enfiar a aliança no dedo, anda a enfiar por aí, e alguma delas poderá ser a premiada com o bilhete de lotaria.
Sonhos e fantasias de novas candidatas a Cinderela.

Mas é quando Ronaldo e os outros se juntam para jogar com os belos ragazzi italianos que as mulheres se sentam mais atentas no sofá. De preferência com o telecomando entalado entre as pernas.

Assim, será de esperar que - para além do generalizado interesse masculino por um jogo Portugal x Itália - o encontro particular que ontem a RTP transmitiu, tenha tido dois grandes picos de audiência:

Primeiro, quando os onze italianos se perfilaram antes do início de encontro.
Aí, as meninas aproveitaram para tirar as medidas, e até disfarçaram o interesse pelas movimentações transalpinas com ocasionais urros "Portugal! Portugal!", comentados pelo parceiro do lado com muito mais mal disfarçado sarcasmo...
"Para que é a gritaria? Estamos a perder!"

Não terá durado muito o interesse e lá as mulheres regressaram aos seus afazeres, tipo lavar a louça que deliberadamente esquecemos amontoada no lava-loiças.
No desafio, começa a dança das substituições e é então que acontecece o segundo pico de audiência do encontro motivado pelo depravado interesse feminino.
Parece que o mulherio regressou aos magotes, para perto do televisor, quando ouviu:
"... e aos 57 minutos, sai Zambrotta e ENTRA GROSSO!"
Cose della vita...

06 fevereiro 2008

Dias em crise

O Eldorado - Edição nº 206

Como facilmente notarão, vivo uma crise de inspiração.
Há três bons motivos que contribuem para este deserto de ideias, os quais deixo à vossa imaginação.
Uma das consequências deste marasmo criativo é fazer rimar as primeiras frases de cada nova postagem, o que é irritante.

Na actual conjuntura, ganha cada vez mais força a ideia de acabar com o blogue, ideia que é uma certeza a acontecer no prazo de três meses.
E, pela enésima vez, este não é um apelo às massagens no meu ego.

"O Eldorado", se Deus quiser, e esta é a frase-chave desta postagem, ainda durará quase três meses. Depois, fecham-se as portas da tasquinha.
Até lá, continuarei a servir petiscos mais ou menos saborosos.
Até amanhã.