30 outubro 2007

Língua Azul

O Eldorado - Edição nº 176

Esta noite sonhei que as ovelhas do meu presépio tinham a língua azul.

Levantei-me às quatro da manhã, enfiei os pezongos nos chinelos esburacados, limpei duas ou três remelas, apertei o roupão em torno do dorso hercúleo (pois, pois...) e lá fui eu cheio de coragem, tipo Indiana Jones em busca da Arca Perdida, neste caso, a pequena arca com os bonecos para o presépio, que só esperava remexer lá para os feriados do princípio de Dezembro.

Subi para cima de uma cadeira para chegar a uma portinhola no topo do armário da sala e, assim que rodei a chave, ouvi balir jingle bells ainda mais desafinadamente que os piores concorrentes do "Família Superstar".
Aquilo era mesmo lancinante, como se estivessem a estripar a Céline Dion.

O caos era generalizado: o menino Jesus chorava, Maria desancava em José, o burro zurrava, a vaquinha mugia, Baltazar, Gaspar e Belchior interpretavam, bêbedos que nem um cacho, os maiores êxitos do Trio Odemira, os camelos blateravam, os patos grasnavam, as galinhas cacarejavam, os coelhos chiavam, os cisnes arensavam e o moleiro não se calava por, alegadamente, a equipa de Belém ter sido prejudicada frente à Académica, no último fim-de-semana.

Peça a peça, fui colocando as figuras empoeiradas no chão da sala.
Cada uma delas foi encostada aos meus lábios (um privilégio que poucos usufruem) e recebeu um severo "Chiuuu!!", porque aquele chinfrim acabaria por acordar os vizinhos que, inevitavelmente chamariam a polícia.
E o que diria eu?

"Ó sr. guarda! Mas se lhe estou a dizer que não era eu que estava a fazer o barulho, era o menino Jesus!"
"Sim, sim! O menino Jesus, os reis magos e as ovelhinhas, não?"
"Exacto! O sr. guarda também tem um presépio assim?"

Mais calmos, alguns dos bonecos de louça lá se fizeram ao caminho, porque apesar de não ter colocado no chão nenhuma cabana com o menino Jesus lá dentro, por tradição, as peças colocam-se em fila indiana e vão... para um sítio qualquer.

Como o que me interessava eram as ovelhas, deixei que reis magos e restante maralha seguissem o seu destino, apenas recomendando que não tropeçassem no cabo da Sportv, avisando desde logo que, se acontecesse alguma coisa, seriam eles a ficar todo o dia prostrados ao telefone, à espera que alguém da Tv Cabo os atendesse.

Juntei então as 219 ovelhas, para averiguar se alguma delas tinha a língua da cor do sangue do Alberto do Mónaco.
Big Problem: Como é que eu abro a boquinha de louça destas figurinhas?

Foi então que se fez luz.
Não só porque a acendi, mas sobretudo porque tive a ideia de contar ao rebanho, que o governo garantiu que ainda não é em 2008 que os portugueses vão pagar menos impostos.

As ovelhas abriram a boca de espanto e eu pude confirmar que nenhuma delas sofria do Orbivírus da família Reoviridae, que possui 24 sorotipos e que afeta ovinos, bovinos e diversas espécies de ruminantes selvagens.
Ou seja, nenhuma tinha o escalope azulado.

Mais descansado, guardei tudo onde estava e fui dormir.
Não sei é se, até ao Natal, a maior parte das ovelhas do meu presépio não terá decidido emigrar para Espanha, onde una oveja no paga tanta contribución.

26 outubro 2007

A Grande Ciumeira da União Europeia

O Eldorado - Edição nº175

- E agora, uma outra equipa de reportagem do "Eldorado" está no Parque das Nações onde vai decorrer a Grande Ciumeira da União Europeia, a resposta dos peixes e outras espécies do Oceanário à realização da Cimeira União Europeia-Rússia que decorre hoje em Mafra.

Vamos já em directo para o local, onde está o nosso repórter Orlando Rabo de Peixe.

Boa tarde, Orlando. Quais são as palavras de ordem aí, nessa inesperada Ciumeira?

- Boa tarde, Maria Cláudia Raia, aqui as palavras de ordem são as seguintes: "Chernes e Tubarões são no Parque das Nações".
A manifestação está a ser muito concorrida. Cavalos marinhos, tubarões, raias, moreias, salmonetes, robalos, corvinas e muitos mais saiem do Oceanário com cartazes empunhados bem alto pelas barbatanas...
Se me permitem a expressão é "uma autêntiga vaga de protestos que está a submergir esta zona da capital". Vou tentar ouvir algumas destas espécies...

Desculpe... boa tarde. Estamos em directo para o "Teleblog do Eldorado"... Quais as razões que levam a este protesto?

- As razões?! Esses políticos europeus são uns mal-agradecidos, é essa a razão! Estiveram aqui na semana passada, alguns até criaram afinidades com uns tantos de nós, e agora estes cabrões preferem reunir em Mafra?? Que merda é esta, ann?

- Pedia-lhe antes do mais que moderasse a linguagem e que concretizasse melhor os argumentos que vos assistem...

- Olhe, eu não percebo nada do que está a dizer porque eu só tenho a quarta classe ainda do tempo do Aquário Vasco da Gama, mas queria dizer o seguinte, sem ser mal-educado: Eu sou um carapau que trabalha aqui vai para dez anos, ann? E nunca vi nada assim!! Ainda na semana passada andava aqui o Golden Brown, o Sacarozy e o Socas enrolados com enguias e linguados e agora vão-se embora? Isto é um escândalo pior do que a Casa Pia, é o que lhe digo!!

- Está portanto a dizer que houve contactos mais íntimos entre espécies do Oceanário e os chefes de Estado?

- Contactos íntimos as escamas do meu cu! Houve foi uma grande caldeirada, isso sim!! Até a chanceler alemã andou na fufice com as lontras que eu bem vi com estes olhos de peixe que o mar há-de comer!! E agora já preferem Mafra?? O que é que há em Mafra, ann? Não há nada!!!

- O Palácio Nacional de Mafra, a Tapada, a aldeia típica de José Franco no Sobreiro, com os seus bonecos articulados, as Praias... a da Calada, a dos Coxos...

- Olhe! E diz vossemecê muito bem! Essa gente tapada... essa espécie de bonecos articulados... essa cambada de coxos... devia era estar calada! Vão mas é para o ca*****!

- E temos aqui outra manifestante, uma medusa. Boa tarde, menina. É para o "Tele...

-Olha-me este!! Olha, filho se vens passar as mãos pelos meus tentáculos, como fez o cherne Barroso e depois foges para a Tapada, está mas é quietinho, que aqui a medusa não volta a ser fisgada tão depressa! Ordinários!! Badalhocos!! Javardolas!!

- Esteve com o Presidente da Comissão Europeia?

- Estive sim senhor, eu e dois salmonetes. O cherne divertiu-se à grande, fez promessas que não cumpriu, secou-se, vestiu-se e agora vende-se aos saloios? Como é que é? Veja ali o tubarão-cornudo e o peixe palhaço! Já não lhes basta o nome que agora passam a sê-lo??

- Bem... por último talvez entreviste esta lontra... boa tarde. Também está descontente com esta cimeira da União Europeia e Rússia em Mafra?

- Atão não?! Na semana passada falou-se aqui do Tratado de Lisboa, e agora não volta a ser aqui porquê?

- Não faço ideia...

- Pois não faz, não é? Ainda a semana passada o Zapatero andava aqui no gozo com as lontras, a dizer que "a vida de lontra é que é" e "grandes vidas que têm as lontras" ou ainda "a minha mulher também parece uma lontra mas não tem bigodes tão fofinhos" e isto para quê? Fingimento pá! Nada porreiro, pá!

- Mas parece que o presidente da Rússia, Vladimir Putin quer vir aqui ao Parque passear um pouco antes de voltar para casa...

- Ah vem passear, o menino? Quem ele pensa que é? A estrela do mar?? Não, porque essa vai ali com o caranguejo e está mais lixada que o mexilhão! Mas ele que venha cá com saladas russas que vai levar para contar!! Filhos de uma granda Putin...

- E pronto, Maria Cláudia Raia. Daqui da Alameda dos Oceanos é tudo para já, quanto a esta Grande Ciumeira da União Europeia. Os peixes e outras espécies do Oceanário vão continuar com esta manifestação de ciúmes por causa da realização da cimeira União Europeia-Rússia em Mafra.

- Obrigado Orlando Rabo de Peixe. É o final deste "Teleblog do Eldorado". Boa tarde.

- Cláudia?

- Diz, Orlando?

- Já não estamos em directo?

- Não, já acabou.

- Queres vir jantar comigo, daqui a pouco? Esta conversa de loucos deu-me fome... estava a pensar que podíamos ir fazer uma mariscada...

- Olha, está bem. Parece-me uma boa ideia.

- Porreiro, pá!

Vídeo de suporte: "Underwater Love" - Smoke City



24 outubro 2007

Sexy Singers dos Anos 80 # 03 - Sandra

O Eldorado - Edição nº 174

Antes de tudo, se é uma pessoa perspicaz ou doida o suficiente para perder tempo com as minudências deste blog, reparou que o nome desta rubrica deixou de ser "Sexy Girls dos Anos 80", para passar a ser "Sexy Singers dos Anos 80".

A "ideia original" (gaba-te cesto) era mesmo essa, a de editar perfis e vídeos das cantoras mais sexies há vinte ou mais anos atrás.
E estou em condições de garantir que esta nova colecção eldoradenha terá 14 cromos ou "cromas", todas muito jeitosas nessa altura e muitas delas recauchutadas nos dias de hoje...

E hoje recordamos a Sandra.
Quem é que não conhece uma Sandra?

Esta que aqui trago, cantava o hit "Maria Magdalena" nesse já longínquo ano de 1985, já se passaram 22 anos (momento depressivo em que o escriba se levantou, foi ao espelho e contou perto de uma vintena de cabelos brancos)...
Adiante, Johnny.
Adiante.

Sandra - Curiosamente, Sandra é não só o nome da lourinha que cantava "Maria Magdalena" (ouvir lá em baixo) mas também o nome do grupo alemão onde era vocalista.
Sandra Cretu (hoje com 45 anos) e o então seu futuro marido Michael Cretu (letrista e produtor) foram os mentores dos Sandra e Michael esteve também na origem dos Enigma.
Para dar um toque cor-de-rosa ao perfil, diga-se que o casal vive em Ibiza e têm dois filhos Nikita e Sebastian, que também poderiam ser o nome dos seus dois caniches, digo eu.
Ah! Parece que a senhora ainda grava temas bem dançáveis. Tem um álbum editado este ano, mas se quiserem saber mais vão à internet que eu tenho mais que fazer.

O vídeo - Se carregar na setinha aí em baixo terá de imediato acesso à Sandra dos doces 23 anos e ao grupo com o mesmo nome que, vagamente faz lembrar os portugueses Santamaria.
É claro que a vocalista alemã é incomparavelmente mais bonita, não tendo a queixada da Filipa Lemos e sim o nariz arrebitadinho da Helena Laureano.
Espreitem lá para ver se concordam comigo, que eu espero...

Já estão de volta?

O vídeo parece ter sido gravado numa fábrica de ventoinhas, não é? E o que dizem do corpinho elegante da Sandra? Já não se fazem alemãs como a Nena, a Claudia Schiffer, a Heidi Klum e a Sandra. As "alemãs comuns" que conheço são autênticos bulldozers, musculadas ou anafadas, em média com 1m 80cm, 75 quilos pelo menos, mochilas gigantes às costas.
Enfim, são mulheres para levar dois ou três Marques Mendes debaixo de cada braço.
Mas esta Sandra não é assim. O seu único mal é fazer com que não consigamos deixar de cantarolar esta "creature of the night"...

22 outubro 2007

Sabores Vegetarianos

O Eldorado - Edição nº173

Eu, que me babo por um bom pedaço de carne, de qualquer tipo no prato, de uma só espécie bem específica e identificada na cama, envolvi-me de cabeça nos gostos alternativos e aqui já só me refiro mesmo aos sabores da mesa.
Descomplicando, posso dizer que sábado foi um dia dedicado à causa vegetariana.

Depois da mostra de plantas aromáticas e medicinais, a ARCADA, associação a que pertenço, organizou aquele que foi o 1º Encontro de Alimentação Saudável no Pinhal Novo, que contou com a presença de cinco oradores inspirados, uma vintena de assistentes na plateia e mais do dobro na hora de comer.
Sim, porque o português gosta é da hora de comer, seja carne, peixe ou tofu com cogumelos.

Mas a alimentação vegetariana ainda é um bicho de sete cabeças para muitas pessoas.
Ou, deixando os animais de lado, uma planta meio extraterrestre com três olhos e linguagem binária.
Um amigo meu clamava a pés juntos que tinha a certeza de não gostar de "Amburgas de Soja", de "Fotu", de "Algas Madrinhas" ou de "Satã com molho de Shogun" e eu, claro, respondi-lhe que também não gostava de nada disso...

A ementa do encontro? Três pratos à escolha, a saber: Lasanha de Soja, Tofu com Cogumelos e Seitan no Forno com Puré de Batata e Cenoura.
Papei este último com alguma voracidade porque já passava da hora. E estava muito bom, ou não tivesse tudo vindo do excelente restaurante "Encontro de Sabores" em Pinhal Novo. Merece a vossa visita estejam onde estiverem.

Sumo de maçã e cenoura a acompanhar.
Depois houve um sortido de sobremesas, onde o Bolo de Alfarroba, talvez por se assemelhar aos de chocolate, foi o primeiro a desaparecer, sem que fosse a tempo de o provar, o magano.

Dos oradores ou palestrantes, destaque para o curioso contraste entre o exótico Luís Filipe Estrela e a discrição quase monástica dos dois elementos da Associação Portuguesa de Vegetarianos.

O Sr. Estrela, figura pitoresca de Setúbal que alardeou o seu passado problemático com uma jactância verborreica própria de quem deu a volta por cima, chocalhou a audiência com as suas aventuras no mundo do crime e da droga, a que contrapunha agora uma filosofia para lá de zen, holística e rapidamente desenquadrada do tema central do encontro.
Mas se ele não tivesse ido, o encontro teria perdido algum brilho, essa é que é essa, mais que não seja porque o fato imaculadamente branco que envergou, fazia lembrar a reencarnação da Nossa Senhora de Fátima num tipo de bigode.

O encontro foi globalmente positivo e eu próprio, carnívoro assumido, só no domingo à noite voltei a comer carne, o que, fazendo contas às quatro principais refeições do fim-de-semana, dá uma reduzida percentagem de 25% quanto à digestão de comida que foi outrora um animal de quatro patas.
Duas refeições vegetarianas... (50%)
... e uma de peixe (25%).

E, se fosse sempre assim, eu não teria 8 quilos a mais, seria mais saudável e porventura mais bonito, assim uma espécie de George Clooney da Margem Sul.
Pronto, não exageremos.

18 outubro 2007

Cuscos e Mirones

O Eldorado - Edição nº 172

Há mais de 500 anos, alguém se chegou ao pé do Cabo da Roca, colocou as mãos em pala sobre os olhos, mirou, mirou, mirou e pensou: "E se a malta fosse por este mar afora, descobrir mais mouros para cascar, especiarias, monstros marinhos e mulatas de bundinha arrebitada?"

E assim começou uma longa tradição contemplativa, enraizada de tal forma no nosso código genético que somos capazes de deixar uma tarte de natas a meio, para ver os vizinhos a fazer marmelada, ou trocamos uma bela fatia de melancia fresquinha, para ver dois bêbedos à bananada.

São opções, dirão.
Não, é cusquice mesmo.


Gostamos de espreitar, nada a fazer.
Espreitamos as pernas das meninas, o resultado dos acidentes de trânsito, as repetições dos alegados 'penalties', as cantoras boazonas dos anos 80 no "Eldorado", a revista que outros desfolham no Metro e até a tabela de ordenados dos jogadores do Sporting.

Há alguns dias, passaram por cá os Princípes das Astúrias.

Quem?!

A Letízia e o Filipe.

Ah sim, vejo-os nas revistas e gosto muito deles. São como se fossem da família. O quê? Vão passar por Beja? Pois hei-de lá ir, sim senhor!

Desculpe... a senhora não mora em Freamunde?

Atão, é um pulinho... não posso deixar de ir ver se a "Litícia" está mais magrinha e se o espanhol é mesmo alto como dizem!!

E foi isto.
Centenas de mirones a fazer adeus aos Princípes das Astúrias, que a população não faz a mais pálida ideia de onde raio fica, mas o que é que isso interessa?
E ouviram-se disparates como:

"Ai, tão magrinha!

"Ó "Litíxia"! Vai lá a minha casa que eu preparo-te umas migas que 'tás muito fraquinha, menina!

"Que lindo vestido que ela tem! Vi um igual a semana passada numa revista!"

"Ó Filipe, faz-me um herdeiro!"


E quando os jornalistas queriam saber porque estavam ali horas à espera do monárquico casal, respondiam:

"Ah, para ver se são como nas revistas!"

Ou...

"Ê nâ sei porque vim, mas já tinha acabado o dominó com o Zéi da Adega e nã tinha mais nada p'ra fazeri..."

Então, e aquele que vai ali, não é o Sócrates?

"Ah, esse já está muito visto e mal-visto até!"

Então e... aquele ali não é o Malato?

"Onde? Onde? O Malato é alentejano como nós! "Bute" ver o Malato!!"

E não é o Pato Donald que vai ali com o Elvis, naquele disco voador?

"Onde? Onde? 'Bora ver isso!!"

Esperem! Um tipo de motorizada espetou-se contra um camião a dois quarteirões daqui! Dizem que o tipo ficou mesmo mal!

"Epa! Isso é que é giro!! Vamos ver isso primeiro!!"

Muito triste viver em um país assim.
Detesto essas pessoas tão básicas, tão pequeninas que vivem para cuscar, mirar e...

Desculpem, mas tenho que ir andando.
A boazona de mini-saia que tem estado ali na paragem para apanhar o 28, vai subir para o eléctrico...

16 outubro 2007

Sexy Girls dos Anos 80 # 02 - Nena

O Eldorado - Edição nº 171

Antes de viajarmos no tempo à procura de boazonas que hoje são quarentonas e cinquentonas recriadas pelos bisturis de cirurgiões plásticos, tenho que vos dizer que não compreendo o pouco ou nenhum entusiasmo gerado aqui pelos textos de matriz política.

Há lá coisa mais engraçada do que a política portuguesa? Não será Alberto João Jardim um Mister Bean mais anafado e menos aclamado?

Mas vamos lá às boazonas, que é o que vai fazer com que perca também a fidelidade da ala feminina que lê este blog...

Hoje, caros leitores - e neste momento devo ter só três ou quatro heróicos resistentes - vamos continuar a falar de balões. Não como os da Samantha Fox que, vá lá, tanto sucesso fez na semana passada, mas daqueles a sério que se enchem com o ar soprado com toda a força dos pulmões - isto se não fumarem desalmadamente - .

É uma música sobre balões, portanto. Mas não é a Manuela Bravo e o mítico "Sobe, Balão Sobe".
É a Nena.
E que gira que era a Nena.
Ui! A Nena era mulher para chamar a este blog mais dois leitores rebarbados.
Pelo menos.

Nena - Esta cantora alemã que tanto sucesso fez nos anos 80 com o "99 Red Baloons" ou em alemão "99 Luftbaloons", já tem 47 aninhos. De seu verdadeiro nome Gabriele Susanne Kerner, a senhora mantém o olhar azul que fazia suspirar os teenagers e moi même, mas hoje seria ridículo vê-la aos saltos a contar 99 balões.
Mas na década de 80, na frescura dos seus vinte e tal anitos, a linda Nena dava cara e corpo a centenas de posters colados nas paredes do quarto, ao jeito de altares de devoção, capazes de suscitar uma das grandes questões da juventude de então: Quem era mais bonita? A Nena ou a Maitê Proença?
O meu voto ia para a brasileira, mas essa não cantava, só encantava, por isso, já a seguir, surripiado uma vez mais aoYouTube, recordamos os "99 Red Baloons" de Nena.

O vídeo - Como poderá ver abaixo, as permanentes viviam os seus tempos de glória. Não havia cool boy ou cute girl que não tivessem uma melena vistosa como a cauda de um pavão.
E havia ainda necessidade para mensagens mais ou menos subliminares contra a Guerra Fria, espécie de "make songs, not war".
Em termos de malandrice, o vídeo é fraquinho. A bela da Nena saltita em calças de ganga apertadas e é tudo, exceptuando, talvez, aquela cara de menina perdida na feira, como quem lamuria "ai, onde é que estão os meus balões? Ainda agora tinha aqui 99 balões, com o caraças! Tu queres ver que eu vou chorar porque perdi os 99 balões? Chuiff..."
Enfim , sem qualquer hipótese de vislumbrarmos sequer os joelhos da Nena, resta-nos cantarolar este melódico hino dos anos 80 alto e em bom som, até sermos internados num hospício.

15 outubro 2007

Pedro e o Lobo

O Eldorado - Edição nº 170

Pedro Santana Lopes andou caladinho durante algum tempo, mas está de volta, disponível para ser o líder da bancada parlamentar social-democrata.
Para ele, tinha passado demasiado tempo sem que os holofotes dos media brilhassem na sua careca e havia que fazer qualquer coisa, porque já se lhe adivinhava um beicinho gigante capaz de engarrafar o trânsito no Túnel do Marquês.

Quando está carente, Pedro Santana Lopes - que já tive o prazer de entrevistar - não consegue estar quieto. É como aqueles cães que rodopiam para morder a própria cauda se não houver mais nada para abocanhar.

Agora, aquele que terá sempre o eterno epíteto de "enfant terrible" do PSD, pisca o olho à bancada laranja. Como quem pensa "primeiro conquisto o hemiciclo, depois todo o ciclo português".
Ou voltando à metáfora canina "primeiro ladro aos deputados, depois rosno para o país".

O maior medo do cachorro, perdão, do antigo primeiro-ministro é que um dia em pleno horário nobre das televisões, uma sua importante interpelação a Sócrates seja interrompida por uma ligação em directo a casa do José Mourinho quando este está no duche, ou mais importante, no preciso momento em que o eminente ex-treinador solta um "pum" bem treinado.

É que Pedro tem, reconhecidamente, traumas que um divã de psiquiatra não retiraria em meia dúzia de sessões. Não são raras as vezes em que o deputado do PPD-PSD se sente acossado, injuriado e injustiçado pelo fantasma do Lobo Mau, chame-se ele Mourinho, Sampaio ou Cavaco.

Entenda o Dr. Pedro Santana Lopes que há armadilhas no parlamento, num ápice baterá com a porta, deixando a laranjada sem espremedor.

Por essas e por outras, será melhor recorrer a uma trela, levá-lo à rua três vezes por dia e afagar-lhe as orelhinhas e a barriguinha, dizendo que é muito bonito e fofinho.
Se assim for só restará mesmo o risco de que ele rodopie e morda a própria cauda.
Mas a isso já estamos todos habituados.

12 outubro 2007

Lelo Marmelo

O Eldorado - Edição nº 169

Um dos meus sonhos sempre foi - e continua a ser- escrever para televisão.
Poderiam ser séries de humor, novelas ou 'slogans' para a Frize.
O sonho ainda não se realizou, mas onde houver uma caneta no chão, haverá uma frase minha na parede.

Se eu escrevesse, por exemplo, uma novela e um canal de televisão a transmitisse, podem crer que o país pararia vítima de um espasmo colectivo, com direito a ressacas monumentais e cantos gregorianos, muito corrupio do pessoal do INEM por causa dos internamentos em série e, inclusive, seria declarado o Estado de Sítio por sua Excelência, o Presidente da República, Aníbal, a Caveira.

Já tenho o argumento desfraldado ao vento no vazio do meu cérebro, onde os neurónios (cinco ao todo) vestem casaquinhos de lã, mesmo quando os Outonos insistem que são uma espécie de Verão.
Então, a minha novela seria mais ou menos assim:


Um jovem cigano, daqueles mesmo ranhosos e a cheirar a cigano, vai à procura dos verdadeiros pais. Ele empreende uma inominável cruzada em demanda dos seus progenitores (frase coligida com a ajuda de um dicionário).

Lelo deixa Mértola numa terça-feira bem cedinho, ainda não estava a dar a "Praça da Alegria" e parte rumo a Lisboa, seguindo para a zona fina da Lapa, seguindo as pistas que reuníu à boa maneira CSI (Cigano Super Inteligente).
É assim que deixa a apanha de bolotas debaixo de um sol escaldante, para abraçar uma vida como prostituto de luxo, embalado por noites de luar e champanhe.

Lelo acaba por se apaixonar por uma rapariga enfezadita que trabalha como caixa de um Minipreço na zona pobre da cidade.
Mais tarde, ele vem a saber que ela é afinal sua irmã e sofre de Hepatite em último grau, mas ainda assim eles têm um caso, fazem amor e nasce um bezerro com três cabeças.

Entretanto, os pais de Lelo descobrem que ele está por perto a farejar a sua identidade e, por isso, escondem a coca no serviço Vista Alegre, não vá Lelo farejá-la também e a coca está cara, custa os olhos dela, da cara, e é melhor eu pôr um ponto final nesta frase tipo Saramago-com-os-copos, ou vossemecês acabam por desistir de ler o resto da novela e ainda vão acontecer momentos giros, ó se vão.

Nisto, o meio-irmão de Lelo (que se chama Martim e nasceu de um caso entre a sua mãe e um adido cultural húngaro), resolve assumir o relacionamento proibido com um ministro do governo Sócrates, facto que fará capa, centrais e colunas laterais no "24 Horas", no "Correio da Manhã" e no "Avante". Todos eles com cupões que, após recortados pelo picotado, dão direito a uma baixela de prata.

Em poucos dias, Lelo descobre onde os pais moram e está tudo a postos para o grande reencontro.
O cigano herói desta história alucinada e genial, já que foi escrita com o auxílio de alucinogéneos, não faz por menos e prepara a sua aparição numa Festa da Espuma, organizada por uma 'socialite' tão enxertada de 'botox' e silicone que quando ria levantava uma perna.

Esplendor e decadência dão as mãos num imenso 'hall' de um antigo convento, onde moram os pais de Lelo, mas nem Deus nem o Diabo imaginariam o que sucederia a seguir.

Por volta da meia-noite, qual cinderelo voltado do avesso, Lelo faz a sua aparição triunfal, escoltado por uma legião de jornalistas da imprensa cor de rosa previamente avisados para a bronca latente, embora outros só ali fossem por causa dos decotes e dos croquetes.

Uma vaga perplexa de sussurros ribomba pela sala iluminada pelos candelabros de cristal que brilham no cabelo oleoso de Lelo Marmelo.
Estava de volta o renegado, assumindo a relação com a irmã e apresentando à nata da sociedade, o neto dos Viscondes de Almeirim:
Alexandre Dengoso Ruminante, o bezerro das três cabeças!

Fotógrafos frenéticos disparam 'flashes'. "Tias" e panascas do 'jet-set', de plumas e lantejoulas, desmaiam em leque como se tivessem sido escolhidos por engano para "O Lago dos Cisnes"; outras, com decotes mais perigosos que a Boca do Inferno, permanecem de pé em intermináveis risos e cochichos, molhados com licores de menta e baunilha; os seguranças privados dos Viscondes de Almeirim, antes Balbina e Anacleto Marmelo, sentam-se para assistir à queda do império; há quem ande pelo chão à porrada e outros querem matar Lelo logo ali, mas aparece o Scolari "para defendê o minino" repetindo vezes sem conta que "pimbolim é matraquilhos".

A apoteose acontece quando Dengoso, o filho de Lelo e neto dos Viscondes, rebenta com a trela e, para deleite do comissário da Judiciária que já andava desconfiado, vai que nem um tiro direito ao serviço de chá Vista Alegre, espalhando coca pela cabeça da grã-finagem, como se fosse possidónia e genuína caspa, em elaborados penteados de gente falsa.

Tudo o mais que escrevesse sobre o que aconteceu a seguir a isto é tão repugnante que lhes revolveria as tripas e eu não quero ter nada a ver com sanitas entupidas.
Acrescentarei apenas mais cinco singelas palavras:

"E viveram infelizes para sempre."

09 outubro 2007

Sexy Girls dos Anos 80 - Samantha Fox

O Eldorado - Edição nº 168

Olá amiguinhos, como diria o o Júlio Isidro.
Dirijo-me em especial aos "amiguinhos", porque o velho JP tem uma novidade para eles, embora elas também possam espreitar.

A ideia era compilar algumas velhas músicas dos anos 80, porque um homem, quando chegam os dias mais frios, se não compila, acaba por encolher ao ponto de não encontrar nada dentro dos boxers.
Acontece que, desde há alguns anos, o Outubro resolveu ser "o novo Setembro", como diriam os mais reputados estilistas, e frio só mesmo dentro do frigorífico - a propósito, tenho que ir ver se os iogurtes ainda estão dentro do prazo -.

Mas mesmo sem briol, eu sou um homem que compila, por isso, a partir de hoje, semanalmente, "O Eldorado" vai recordar as "Sexy Girls dos Anos 80", a década dourada da pop orelhuda.

Preparem-se para ver meninas roliças, sem vestígios anorécticos, de longas permanentes ao vento, muito blush e meneios de anca.
Ainda não era altura para os requebros da Beyoncé, ou da Shakira, muito menos das entusiasmantes - para dizer o mínimo - Pussycat Dolls, mas a sensualidade soft-core estava lá, num tempo em que se puxava pela imaginação, ao contrário dos dias de hoje em que as meninas dos telediscos já aparecem despidas e ao quilo.

Obviamente, a nossa série só podia começar por Samantha Fox.

Samantha Fox - A cantora britânica nasceu em Londres, a 15 de Abril de 1966, ou seja aquelas mamas têm já 41 anos cada uma. Os Anos 80 foram os seus anos dourados e não havia homem heterosexual que não tivesse uma erecção à conta daquela vaquinha, digo, lourinha, cujo maior talento era mesmo o pára-choques mamário.
Tanto que, e agora já não sou eu que o digo, a cantora foi catalogada como uma das tit-stars, onde figuravam, e de que maneira, a italiana Sabrina e a polaca Danuta Lato, que só o Google me apresentou, tendo desde já a reclamar um violento traumatismo nos globos oculares. Adiante...
Eis que, passadas umas décadas, a bela Samantha se assume como lésbica e eu não tenho nada a opôr, se se reapresentasse como homem seria pior.

O vídeo - Lamentavelmente o mega-hit "Touch me" não mostra muito. Ainda assim, são visíveis algumas marcas dos anos 80, como a bela permanente loura, as botas de pele e muito, muito glamour. O que também são bem visíveis são as... Epa! Chega de falar do mesmo, lá ia eu falar das mamas outra vez...
Lembro-me que uma vez, no Algarve, nos tempos de campismo, vi numa daquelas hiper-motorizadas que só os turistas alemães tinham, um autocolante com a nossa Samantha exactamente em cima de uma mota, com o derriére espetado nuns mini-calções de ganga criteriosamente rasgados.
Nesse dia não foi preciso armar a tenda.

08 outubro 2007

Era uma vez no México

O Eldorado - Edição nº167

Está um calor do caraças na fronteira mexicana.
Do outro lado do arame farpado, guardado por guardas armados, está o sonho, a terra prometida do Uncle Sam.
Uma frágil figura vislumbra-se ao longe, aproximando-se, de bicicleta, pelo velho caminho de terra batida, ladeado de cactos.

Pablo está cansado, tem sede, mas não quebra facilmente.
Aproxima-se dos façanhudos guardas para ser controlado. Está calmo, mas de qualquer maneira detesta ser apalpado por gajos fardados.
Um polícia negro, que media seguramente mais de dois metros de altura, manda-o parar.

- Alto! Quem és tu e o que trazes nessa pesada mochila às costas, seu contrabandista do país das malaguetas?

Pablo, não respondeu.
Saltou da bicicleta, livrou os ombros da mochila pesada e entregou-a à autoridade.
O polícia abre a mochila, vira-a ao contrário e despeja o conteúdo no chão.
Areia. Um monte de areia.

- O que é isto?!
- Areia, señor.
- Areia, para quê?
- Para levar a um primo meu, do lado de lá da fronteira.
- Queres que eu acredite que não fazes contrabando, e que só vais entregar areia ao teu primo?
Tomas-me por parvo?

Os guardas riram na cara de Pablo, retiveram-no durante dois dias numa cela de um edifício antigo e mandaram analisar a suposta areia.
Mas as análises não acusaram nada para além de areia e os guardas não tiveram outro remédio se não voltar a encher a mochila do pobre Pablo, que foi libertado e lá seguiu viagem para os Estados Unidos.

Uma semana mais tarde, ainda e sempre com um calor do caraças, uma frágil figura em cima de uma bicicleta, aproxima-se da fronteira, ziguezagueando com dificuldade pelo velho caminho de terra batida e os cactos e tudo o que escrevi lá em cima, que eu não estou para estar aqui a repetir-me.
Era Pablo.

- Outra vez?? O que é que trazes aí?
- Areia, señor.

A mochila foi despejada, Pablo retido, a areia analisada e tudo como dantes.

A cena passou a repetir-se três vezes por semana.
O Pablo aparecia de bicicleta com uma mochila cheia de areia, era detido pelos guardas, mas saía sempre a caminho dos Estados Unidos.

Passaram-se vinte anos.
O guarda Phil Scott, no primeiro Verão da sua reforma, empreende uma trip revivalista até ao outro lado da fronteira.
Estava um calor do caraças e Phil dirige-se a uma velha cantina para refrescar a goela com uma Corona, a cerveja mais conhecida do México.
Lá dentro, atarracado debaixo de um sombrero, com um copo quase vazio à sua frente, reconhece Pablo, o mexicano do bigode farfalhudo que, três vezes por semana, dizia levar areia a um primo nos States.

Phil Scott sentou-se de frente para o mexicano, sorriu desdenhosamente e confrontou Pablo com fantasmas de outrora.

- Lembras-te de mim, velho maluco?
- Si, señor.
- Ouve lá, minha espécie de lombriga vermelha: Eu sei que andavas a tramar alguma naquele tempo! Houve noites que não pregava o olho a pensar nas tuas tramóias!! Tu andavas a contrabandear, tenho quase a certeza, cara de cu de armadillo!!
Diz-me lá, depois destes anos todos, o que é que andavas a contrabandear?

Pablo, calmamente, bebe o resto da sua tequilla, vira-se para o enorme polícia negro e responde friamente:

- Bicicletas, señor.


DEDICADO A TODAS AS MINORIAS POLÍTICAS, ANTI-TOTALITARISTAS E REVOLUCIONÁRIOS, EM ESPECIAL CHE GUEVARA, EXECUTADO HÁ 40 ANOS, A 9 DE OUTUBRO DE 1967.

04 outubro 2007

Réquiem para um Telemóvel

O Eldorado - Edição nº166

O meu telemóvel faleceu ontem a meio da tarde.
Os últimos sinais vitais soaram perto da meia-noite. Ouviram-se os habituais quatro toques de aviso de mensagem e o rebordo tingiu-se daquele neon azul-turquesa que adorava. Mas já não consegui ler essa mensagem. O pequeno Nokia suspirou e morreu.

Provavelmente, a mensagem diria o seguinte:
"Querido dono: Eu sei que estes momentos são complicados, mas esta é a hora de dizer adeus.
Já dei o que tinha a dar, mas, se bem te recordas, apesar de termos estado juntos apenas 30 meses, dei-te muito. E tu a mim.
O toque dos teus dedos nas minhas teclas era inconfundível.
E... só queria dizer que.... e-eu... eu... Puff!"

- Tu "puff"? Espera!! O que ias a dizer? Não morras!! NÃÃÃÃÃÃÃÕOOOoooooooooooo!!!!

Tem razão, o saudoso objecto de comunicação móvel. Ele era especial.
Foi com ele que recuperei o trilho perdido de uma velha paixão que é, ainda hoje, a mulher que amo e com quem quero passar o resto da minha vida.

A 24 de Maio de 2005, uma colega do Curso de Contabilidade cedeu-me a chave encantada de nove números que, enfileirados de forma correcta, davam acesso em primeiro lugar, a uma doce voz desaparecida há quase dez anos; permitiam depois o ansiado reencontro; e finalmente, o namoro, como estava escrito nas estrelas.
Esse número mágico foi então guardado na memória do telemóvel que ontem morreu.

As primeiras chamadas dela foram feitas com o velho toque polifónico "Light My Fire" dos Doors. Toque que permaneceu durante estes dois anos e meio. Por inexplicável superstição, por exacerbado sentimentalismo.

Muitos sms's foram trocados, muitos "boas noites" em noites chuvosas, em que só apetecia estar junto dela. Noite escaldantes de Verão em que materializava o rosto dela na ventoinha que debilmente refrescava o velho sótão.
E o telemóvel sempre como elo de ligação, ainda que com tarifário pré-definido.

Quanto ao resto - chamadas que poderiam fazer com que hoje não estivesse a engendrar maneiras de gastar o mínimo possível na aquisição de outro telemóvel - , o velho Nokia não trouxe grande sorte.
Sucederam-se os falsos alarmes mascarados de entrevistas de emprego.
E cada chamada com "número privado" atendida era, muitas vezes, um logro em público, uma cabeça baixa, um suspiro deprimido.
Nessa área, desejo ardentemente que o novo telemóvel que ainda está exposto num qualquer agente autorizado Vodafone, traga mais sorte.

O meu velho Nokia, além das mensagens anunciadas em neon azul turquesa, não tinha estas novas funcionalidades de fotografar, filmar, ouvir rádio ou ir às compras sozinho, mas era um companheiro do caraças.

Já vai longo este réquiem.
O velho Nokia vai deixar saudades, mas o amanhã nunca morre.
A viuvez terá que ser aliviada ao mesmo tempo que a carteira, mas isso acontece em todos os serviços fúnebres.
Segue-se um outro telemóvel, com todas as mariquices a que tenho direito.



01 outubro 2007

Matéria Verde

O Eldorado - Edição nº165

Depois de uma interminável série de reuniões do género Tupperware ou "Clube de Leitura", onde as ideias não passavam do papel - não por culpa exclusivamente nossa, mas sobretudo porque o poder local também não cooperou quando solicitado - a associação da qual faço parte meteu finalmente mãos à obra e organizou uma mostra de plantas aromáticas e medicinais.

Esse verdadeiro local mítico no Pinhal Novo (e no mundo) que é o edifício da antiga estação de caminhos de ferro, que nos foi cedido pela REFER, acolheu este fim-de-semana cerca de três dezenas de plantas ditas aromáticas e medicinais e, esse diminuto lote de exemplares, terá sido aquilo que mais me deprimiu, a par de algumas falhas na divulgação e da residual participação da populaça que, ao mesmo tempo tinha a Feira Hipolazer no novo Largo do Mercado, com cavalos e fados a constituir concorrência desleal porque não apresentámos nem uma única planta fadista ou que relinchasse e saltasse obstáculos.

Ainda assim, naquilo que se poderá considerar literalmente as raízes da ARCADA, demo-nos a conhecer, mostrámos algumas plantas curiosas como a planta do caril ou uma romãnizeira, lúcia-lima e outras coisas verdes que por lá estavam plantadas em vasos e das quais esqueci-me do nome.
Penso que não constitui um esquecimento grave, até porque não adianta muito chamar uma planta pelo nome, porque ela não vem, a mal-educada.

E para que não nos acusassem de falta de chá, oferecemos a dita bebida a quem por lá passou, uma boa ideia potenciada pelo tempo cinzento e subitamente mais frio, mesmo a pedir líquidos fumegantes goela abaixo.

Teria sido um fim-de-semana completamente em tons de verde, não fosse precisamente o tempo cinzento, ou a exibição ainda mais cinzenta de um certo árbitro no derby da Segunda Circular, escamoteando dois penalties aos verdes de Alvalade.

À conta disso, passei o domingo a lamentar não termos por ali um cacto de dimensões consideráveis, com que eu pudesse ofertar o sr. Pedro Henriques, que me faria o favor de o enfiar pelo seu cu acima.
Acusem-me de falta de tacto que eu apenas lamento a falta do cacto.
E, já agora, cannabis e milho transgénico também chamariam a atenção.
Pormenores a rever, numa próxima edição.