31 julho 2007

O Sapateiro e a Morte das Estrelas

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Li qualquer coisa sobre os vultos do teatro morrerem aos três de cada vez.
Faleceram Filipe Ferrer e Henrique Viana e o sangue estancou.

Dona Morte deixou as artes de Talma e voltou-se para a Sétima Arte.

Bergman, Antonioni.
E o sangue estancou.

Ou não?
Quem desempata o jogo que ninguém quer ganhar?

Ou Dona Morte escolherá a seguir mais dois vultos de outras artes?

Ainda bem que sou um pobre sapateiro, ignorado pelas parangonas dos jornais...

Ouviu, Dona Morte?
Sou um desconhecido e reles sapateiro.
Não quero bater as botas.

Regresso ao Passado - A Sexy Gata Borralheira

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Era um Verão quente, ainda sem laivos de tropicalismo como os do início deste milénio. Estávamos em plenos anos 80 e "papai e mamãe", acorrentados à rotina, lufa-lufa e horários escrupulosos de duas multi-nacionais que já não têm fábricas em Portugal, contrataram uma jovem empregada para fazer umas limpezas lá em casa, pelo menos uma vez por semana.

Eu tinha 14 anos e entusiasmava-me cada vez mais com decotes e rabos de saias. Só que, paradigma dos adolescentes mais introvertidos, dedicava-me muito mais a intermináveis sessões onomásticas, do que aos imponderáveis engates junto do sexo oposto.
E assim, naqueles tempos em que o sangue fervia e se concentrava todo no mesmo sítio, as terças-feiras galoparam velozmente os degraus do ranking dos melhores dias da semana.

Nas terças à tarde, ficava sozinho em casa com a jovem empregada da limpeza. Era morena, tinha olhos castanhos e um corpo cheio de curvas, tantas como a sinuosidade atrevida do seu sorriso. Temperava as palavras com pimenta e canela, consoante queria ser mais provocadora ou mais doce e meiga.
Tinha 21 anos e ia casar daí a dois meses com um trolha sortudo, que iria levar aquele espectáculo de mulher para casa. Um autêntico Festrolha para o qual não estava convidado.

Não me lembro se limpava bem ou mal, nem sequer como se chamava, mas lembro-me que a presença dela era um autêntico pau de dois bicos. Literalmente.
Isto porque, depois de tanto falar dela, tinha deixado de ser o único vulcão pronto a explodir naquela ilha dos amores. O meu jovem primo Carlitos, absolutamente imberbe nos seus 11, 12 anos, mas disposto a ganhar asas e saltar todas as etapas de uma adolescência que só lhe atrasava o desejo de ser adulto, também por ali sobrevoava a flor que se adivinhava de pólen agridoce.

Nesses doces anos, um tal de Adam Curry apresentava um saudoso Countdown nas tardes do segundo canal e por ali passavam outras tentações da época como esta loura ou esta morena. E tal como entoava um jingle de então, o calor apertava e a sede despertava. Tanto que, na minha cabeça, ideias mais ousadas fervilharam, ao mesmo tempo que, mais abaixo, valores mais altos se levantaram.

Foi então que, com o calor como aliado, convenci a sexy gata borralheira a libertar-se de alguma roupa. E ela prescindiu do avental. Sorria evocando o pecado, enquanto eu engolia em seco. Consegui ainda balbuciar qualquer coisa sobre a sua camisa de algodão, como estava ali a mais, que não viria mal ao mundo se ela se pusesse à vontade e fizesse o seu trabalho de limpeza em soutien... E ela despiu a camisa.

Ouviram-se sinos em catedrais feitas de cristal! Fadas montadas em unicórnios prateados entoaram mantras eróticos! O sol, lá fora, piscava numa palete de neons!
E, num completo desprezo pela poética das coisas, o meu pirilau mordia as calças de ganga, ameçando ser livre, serpente voraz em busca da presa!
E ela? Ela exultava embriagada pelo seu poder de sedução e estava disposta a estender a mesa de jogo até lhe faltarem as peças. E era ela a jogar...

- E agora? É melhor tirar mais alguma coisa?

Não consegui articular uma sílaba, mas os braços finalmente responderam às ordens do cérebro e levantaram-se titubeantes...
Tocaram à campainha.
Ela precipitou-se para a camisa pendurada na cadeira.

- Espera!! Deixa-me ver quem é!!

Nervoso, com o coração a mil, amaldiçoava a minha má sorte, enquanto espreitava do 3º andar lá para baixo. Era o primo, claro. Um autêntico Peninha na vida de um Donald azarado.

- É o meu primo! - gritei para dentro de casa.

E quando entrei com ele, por incrível que pareça, ela continuava a mesma visão de sonho. Uma morena de soutien negro, espanador na mão, sorriso matreiro, olhar matador.

- O que é que ela está a fazer, só de soutien? - perguntou um Carlitos de olhos arregalados.

- Ann.. então, ummmm... é porque estava calor e ...

E não havia mais nada a dizer. A imagem da bela empregada desvanecia-se como miragem, embora continuasse ali, meio despida, sorridente, à espera das próximas jogadas.
Mas não aconteceu mais nada e como estava na hora dos meus pais chegarem, ela vestiu-se.
Foi a sua última terça-feira na minha casa.
No sábado seguinte ela casou e nunca mais a vi até hoje.

27 julho 2007

Desencontro de Irmãos

142


A edição de hoje do "Diário de Notícias", a propósito do caso de fratricídio em que V. Carreira, de 17 anos, matou o irmão mais novo, Ricardo Carreira, de 12, enumera uma série de rivalidades históricas entre irmãos que acabaram sempre da pior maneira.

O "Eldorado" adiciona mais um caso em que ainda não jorrou sangue, mas que deverá estar quase, quase. Já lá vamos.
Respeitemos a ordem cronológica dos factos consumados, antes do facto que está por consumar:

???? - Abel e Caim
O mito bíblico dos filhos de Adão e Eva, é o fratricídio mais célebre da história.
Parece que Caim não quis sacrificar um animal em nome de Deus, tal como fez o irmão Abel e daí terá nascido o conflito. Caim acabou por matar Abel por inveja.
Daí a nascerem os objectores de consciência, os psicólogos e a Sociedade Protectora dos Animais foi um passo de anão.

753 a.C. - Rómulo e Remo
Também foi a inveja a separar os dois irmãos que, reza a lenda, fundaram a
cidade de Roma.
São bem conhecidas as representações iconográficas dos dois irmãos por baixo de uma bezerra, vaquinha, ou lá que bicho é aquele. Mais tarde, Quim Barreiros compôs o tema em que canta "eu quero mamar nas tetas da cabritinha"...
Rómulo, tal como Abel, terá sido beneficiado pelos deuses, criando em Remo um ciúme insuportável que levou a que matasse o irmão.

44 a.C. - Cleópatra e o seu irmão
Aquela que foi a mais famosa rainha do Egipto, dona de uma beleza incomparável, apesar do nariz à Júlio Isidro, terá mandado envenenar o irmão mais novo, Ptlomeu XIII com quem partilhava o poder, para ficar com caminho aberto para as suas diatribes.
Ptlomeu??? XIII???
Estava-se mesmo a ver que não ia longe….

1507 - Irmãos Borgia
César Bórgia foi cardeal nos tempos da Renascença (não estou a falar da rádio!!!), mas abandonou a carreira eclesiástica depois de ter morto o irmão.
A isto chama-se falta de pontos cardeais. Uma rosa dos ventos teria ajudado, mas nesta altura as camisolinhas do Benfica ainda não estavam na moda.

2007 - Carolina e Ana Maria Salgado
Carolina foi acompanhante em bares de alterne, companheira de Pinto da Costa, separou-se e escreveu um livro sobre corrupção desportiva que deverá levar Valentim Loureiro e Pinto da Costa ao banco dos réus e toda a história ao cinema.
Depois, sensacionalmente, aparece uma irmã gémea, Ana Maria, referindo que o livro foi encomendado e que grande parte do que lá vem, não corresponde à verdade.
A seguir aparece o pai das gémeas desbocadas - uma loura, outra morenas, as duas mais feias que uma lesma com lepra -, para classificar Ana Maria como uma débil mental, levando a que esta amiga aqui, classificasse tudo isto como “A Salgada Família”.

O que é que poderá suster duas irmãs gémeas desavindas?
Um Wonderbra.

Cocktails de Verão - Manhattan

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5. Manhattan


Origem: Este cocktail que homenageia a trepidante e charmosa ilha de Nova Iorque é seco, sóbrio e elegante. Nos balcões dos bares, os experts contam que o Manhattan teria surgido mesmo nos Estados Unidos, não necessariamente na ilha, e qua a sua receita original continha apenas rye whiskey (whiskey de centeio) e vermute. Estávamos em 1870.
Daí para cá, a sua fórmula foi bastante alterada. Hoje é comum acrescentar-se gotas de Angostura e uma cereja.
Mesmo simples, a receita do Manhattan exige muito rigor de quem a prepara. Deve-se conhecer, por exemplo, as complexas consequências da maior ou menor quantidade de cada ingrediente: três, duas ou mesmo uma gota a mais de Angostura podem fazer uma amarga diferença.
Pelo seu carácter seco, o Manhattan é considerado um aperitivo, ideal para ser servido antes das refeições.

Ingredientes: 2 partes de rye whiskey
1 parte de vermute tinto
2 gotas de Angostura
1 cereja

Modo de Preparação: Num copo misturador, coloque cinco a seis cubos de gelo e todos os ingredientes, excepto a cereja. Mexa rapidamente com uma colher longa e coe a mistura para uma taça de cocktai. Decore com a cereja que deve ficar no fundo da taça.
Não coma a cereja antes de terminar de beber, porque issso vai adoçar o seu paladar.
Atenção: A autoridade para a consciência ética e moral do "Eldorado" adverte que se beber, não deve conduzir, mesmo que seja o espírito vivo de Boris Ieltsin.. Mais, adverte ainda que beber para esquecer pode levar a que falhe a porta e saia pela janela. O que pode ser perigoso, a menos que seja daqueles que leva um pára-quedas sempre consigo.

26 julho 2007

Vaidade Descarada

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Caros amigos:

Apesar das limitações técnicas que me são impostas (com toda a legitimidade, diga-se de passagem) congratulo-me vaidosamente pelo facto de este blog estar a atravessar, paradoxalmente, a melhor fase dos seus oito meses de existência.

Quando a tasca abriu, só cá entrava um ou dois amigos de sempre, e sempre avessos a comentar.
Dois meses depois, ainda "O Eldorado" andava na ridícula cifra dos 10 visitantes diários.

Depois chegou a Miosotis, a Flora, o N.M., o Null Fame, a Madalena, a Ana e todos os outros.
A comunidade cresceu tipo bola de neve e o número de visitas cresceu com ela.
O número de cliques diários no "Eldorado" subiu para 15... 20... 30... 40... e estará agora em mais de 50 visitas diárias.

Entretanto, o post "Regresso ao Passado - Alegadamente Afogado" chegou, para já, aos 28 comentários, um recorde nesta casa.
Sim, metade dos comentários são meus e depois?
A esquizofrenia não se pega, estejam descansados...

De referir também, que o post nº 133, "Cocktails de Verão - Tequilla Sunrise", foi carinhosamente exportado para o Brasil, via Gláucia do "Gal in Blog".
Obrigado, Gláucia!

Os números são ridículos, eu sei.
Mas este é um blog completamente fora do circuito estelar composto pelos blogues do Nuno Markl, do Bruno Nogueira, do Pedro Ribeiro, ou até do Pacheco Pereira. E, por isso, acho que estes valores são mais interessantes.

Vaidade sem nexo e pueril, concordo.
Mas o maior desafio da minha vida sempre foi trabalhar a minha auto-estima. Por isso permitam-me este enamoramento pelo espelho, 'tá?

Garanto-vos que vou encontar maneira de publicar regularmente no "Eldorado".
Estou a pensar em novas rubricas, em celebrar parcerias, em afiar mais as palavras, sofisticar o humor, enfim, ideias não me faltam, porque eu quero que este blog seja tudo o que estiver destinado a ser.

Tudo farei para trazer mais gente a esta casa.
Só não recorrerei a fotografias de mulheres nuas sem relação alguma com o texto.
Não, isso não.
Seria um golpe muito baixo.

Bem, agora que parei de olhar para o meu gordo e peludo umbigo, está na hora de ir fazer o jantar.
Desculpem o calor da vaidade, sim?
De qualquer forma, para os mais acalorados, amanhã há novo Cocktail, eh, eh!

Postais Caramelos 7 - O Pinhalnovense

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Se a grandeza de um clube de futebol puder ser aferida pela sua representação na internet, estamos conversados.
Tal como acontece com os Bombeiros Voluntários do Pinhal Novo, também não há site do Clube Desportivo Pinhalnovense para inglês ver. Ou mesmo para um caramelo ou outro espreitar.
Uma nuvem negra parece abater-se sobre a comunidade internauta do Pinhal Novo.
Mas "O Eldorado" vai continuar.
A mim ninguém me finta.


Desportivamente, também não há glórias por aí além para contar.O Pinhalnovense é quase sexagenário, completa 60 anos daqui a 10 dias e, tirando alguns títulos de divisões secundárias e dois ou três embates com clubes de renome na Taça de Portugal, não há mais nada a realçar.
E mesmo assim, nesta fase de marasmo de talentos futebolísticos na Margem Sul, o Pinhalnovense é o segundo clube mais importante do Distrito de Setúbal, logo a seguir ao sofrido Vitória.

Longe vão os tempos da glória vitoriana, barreirense e da génese de craques como Diamantino, Carlos Manuel, Manuel Fernandes, Chalana ou mesmo Futre.É como se o talento para chutar uma bola estivesse associado ao apogeu das unidades fabris de uma região. Mas como não sou sociólogo fico-me por aqui.

O "estádio" do clube cá da terra chama-se Campo Santos Jorge. Fica junto aos Bombeiros Voluntários, entre prédios de três andares e paredes meias com a Estrada Nacional. Está delimitado por um muro branco com cerca de dois metros e meio ou três de altura e é comum ver mirones nas janelas e varandas vizinhas. Tem uma só bancada, quase exclusivamente para sócios e um campo de relva sintética, quase exclusivamente para jogadores a sério, embora sejam célebres os jogos entre solteiros e casados. E os viúvos? E os divorciados? E aqueles que dão facadinhas no matrimónio?

Junto à porta principal, três janelinhas de bilheteira de cor azul evocam a memória de tempos ainda menos gloriosos.
Azul é, de resto, a cor principal do clube. Menos mal.
Os rapazes equipam de azul e branco num equipamento decalcado da indumentária do F.C. Porto. Um bocadinho pior.
Aqui ao pé, o Palmelense equipa "à Benfica" e o Alcochetense "à Sporting".
O "Montijo" equipava "à Brasil", mas este ano fechou as portas.
Acabou.
Kaput.

É patética tradição familiar tentar ser jogador do Pinhalnovense. Alguns de nós ficaram-se por uma curta experiência numa determinada pré-época dos juniores. Mas não vou estar para aqui a denunciar-me. Outros foram quase craques dos pés à cabeça. Longas melenas ao vento, bola controlada por chuteiras amestradas. Outros ainda ficaram-se por um fogacho nos juniores e houve aqueles que se limitaram a colocar cal à volta do campo, então pelado. Mas não vou estar para aqui a denunciar, respectivamente, o meu tio, o meu irmão e o meu pai.


De resto, foi nas glamourosas matinés de dança e engate na sede do clube, nos loucos anos 60, que "papai cortejou mamãe". Foi também ali que passei belas tardes e noites a jogar snooker e ping-pong.
A antiga sede, vetusto edifício pintado de bolorento e pastel azul, está hoje a cair aos pedaços.
Procuram-se novas instalações, até mesmo para um novo complexo desportivo.


O futuro de um clube de futebol, de uma carreira profissional, de um relacionamento amoroso, de qualquer coisa, faz-se pelos alicerces. Não adianta pontapear o esférico despreocupadamente, enquanto o passado naufraga e o futuro não emerge.
Mas, tal como não sou sociólogo, também não tenho pretensões de dirigismo desportivo.
Pelo menos por enquanto.

Resta-me continuar a ler as proezas dos jogadores pinhalnovenses nos jornais; ouvir os hilariantes relatos da rádio; ou até ir de quando em vez ao estádio, digo, ao Campos Santos Jorge. E um dia, quiçá como presidente do clube (estou a brincar, estou a brincar...), talvez desate a contratar Ronaldos e Ronaldinhos, a peso de ouro, só para divertir as hostes. Que se lixem os alicerces! Goooooolooooo!!!!!!!!


24 julho 2007

Regresso ao Passado - Alegadamente Afogado

138

Não sou, de todo, a pessoa mais convencional deste planeta.
Basta ler algumas das coisas que tenho escrito neste blog.
Mas a confissão, quase acto de contrição, não explica aquela tarde em que decidi enfrentar a corrente do Sado, ao largo de Tróia, "sendo salvo" por um batalhão de nadadores-salvadores.
Tudo sob o olhar de dezenas de mirones que, na praia, esperavam ansiosamente para ver chegar "o coitadinho" que quase se tinha afogado.
Foi das tardes mais humilhantes da minha vida...

Penso que esta história ocorreu no princípio dos anos 90.
Apesar de nunca ter gostado muito de praia, por levar a peito a Teoria dos Excessos (na praia há sol a mais, gente a mais, água a mais, areia a mais...), às vezes um grupo de amigos mais persuasor lá me arrastava para Tróia.
Talvez porque faltasse um para a futebolada.
Ou porque era giro ver um gajo passar de branco-lixívia a vermelho-tomate em menos de 15 minutos.
Ou talvez porque fosse divertido levar um "Woody Allen" na bagagem, capaz de divertir a maralha com a sua histriónica colecção de crises existenciais.
E então eu fui.

Estava calor a implorar por mergulhos entre as algas e alforrecas, uma das troianas imagens de marca naqueles tempos. E não demorou muito para que andasse tudo ao banho, ignorando a bandeira amarela hasteada ao pé da gigantesca bola azul que publicitava a Nívea.

Quem conhece aquelas águas, entre a Península deTróia e as praias da Arrábida, sabe que, por ali, as correntes às vezes são um caso sério.
Já ali perdi um familiar em circunstâncias macabras que não são para aqui chamadas.

Mas a malta é jovem, não mede a inusitada rebeldia dos actos que lhes alimenta o ego.
Em pouco tempo percebemos que, por mais que esbracejássemos, éramos arrastados dezenas de metros para norte. Nada que pusesse em risco a nossa integridade física.
O que acontecia era que, nadando para a praia, tínhamos que percorrer a pé, até ao local onde estavam toalhas, guardas-sóis e também aqueles que eram então já mais sensatos, ou menos corajosos, a mesma distância percorrida a cavalo nas suaves ondas da correnteza.

Ora, como o mais louco daquele grupo esgazeado, fui o último a abandonar as águas tão revoltas como o mais mortífero dos rápidos. Pronto, estou a exagerar.
Mas era uma correnteza tão veloz como os dirigentes desportivos a fugir da justiça. Era uma corrente moderada, vá lá.
Era uma correntezinha.

Às tantas, estava tão cansado de nadar contra a corrente, a 100 metros do ponto de partida, mas sempre a poucos da orla da praia, esbracejando inutilmente, que tive vontade de deixar-me ir na corrente.
Podia ser que fosse levado até Setúbal, onde retemperaria as forças com uma petiscada de choco frito.

E quando já estava farto da brincadeira parva e predispunha-me a nadar para a praia, aconteceu.

Três nadadores-salvadores, dois gajos e uma tipa, tinham-se lançado à água e nadavam vigorosamente na minha direcção. Continuei a nadar contra a corrente, ao mesmo tempo que pensava: "Como é que vou explicar que não me estou a afogar e que sou só um parvo a nadar contra a corrente?"

Já bem perto, o nadador-salvador mais lesto a chegar perto de mim, que nunca cheguei a concluir se era um excelente profissional ou um entusiasta da série "Marés Vivas" que fazia sucesso por aqueles dias, levantou a voz para ter a certeza de que toda a praia o ouvia e disse-me:

- Já chegámos! Tenha calma, não entre em pânico! Não se canse a esbracejar! Vamos já salvá-lo!

"Salvar-me?! Do quê?! Queres ver que há por aqui tubarões?"

- Annn... eu... eu... eu estou bem. Estava só a... a... a fazer exercício...

"A fazer exercício?! Não podia ter pensado em nada melhor?!"

- Não se canse a falar! Tenha calma!! Estou a chegar até si!

- Mas eu não estou a afogar-me! Posso nadar para a praia quando quiser! Veja!

E lá saí da corrente, passando pelo nadador estupefacto que, durante aquele humilhante regresso às areias douradas daquela praia apinhada de mirones, afogou-se num redemoinho de repreensões e descomposturas que me fizeram desejar ser um tubarão para lhe arrancar uma perna.

Escoltado pelos nadadores-salvadores, avermelhado dos pés à cabeça por culpa do sol e da humilhação cheguei à praia onde os mirones cogitavam, teciam teorias, como empenhadas tarântulas costuram as suas teias. Esperavam um náufrago a espumar-se da boca, com direito a reanimações boca-a-boca, quiçá a sempre espectacular aparição de uma ambulância.

Saíu-lhes uma envergonhada fraca figura, ainda assim capaz de se afastar pelos seus próprios pés, cabeça baixa na desesperada demanda por um buraco na areia onde se pudesse enfiar.

De regresso ao seio do grupo, as palmadinhas nas costas queimavam mais por culpa do escárnio incandescente dos meus "amigos" do que por culpa do escaldão.
Ninguém acreditava que eu não tivesse, efectivamente, passado por dificuldades.
Resta-me encontrar "um certo e determinado" golfinho, com quem brinquei durante aqueles patéticos minutos, na correnteza.
Ele pode corroborar que eu só estava a divertir-me.

21 julho 2007

Desinfestação

137

Caros leitores:

A gerência do "Eldorado" vem, por este meio, apresentar um pedido de desculpas a todos os leitores e bebedolas que procuram este blog, em especial às sextas-feiras, dia de cocktails.

Acontece que, sem que nada o prevesse, o "Eldorado" recebeu a visita da ASAE e, pelo menos por uns dias, e porque foram detectados vírus informáticos atrás do bar, vamos ter que fechar.

De igual forma vai ser interrompido o nosso serviço de mesas, onde servimos anedotas, textos parvos, episódios do passado entre outros devaneios.

Se a desinfestação correr conforme o previsto, estaremos de volta na segunda-feira.
Caso contrário, regressaremos na terça.

Uma vez mais, o nosso pedido de desculpas.
Aproveitem este interregno para ir empinar papagaios para a praia ou molestar velhinhas com colheres de sobremesa.

Gratos pela vossa compreensão,

Pela gerência do "Eldorado"

João Paulo Cardoso

19 julho 2007

Quinta das Anedotas 14

136

Um dia no circo

O domador de leões estava a fazer o seu número, com o profissionalismo de sempre.
Orgulhava-se de ser bom naquilo que fazia, os animais tinham-lhe respeito, e...
De súbito, um dos leões, farto de trabalhar precariamente (não acontece a todos?) rugiu à maneira de Ipiranga e lançou-se ao público!
O drama... a tragédia... o horror...
As pessoas começaram a fugir, umas correndo para um lado, outras para o outro... e, enquanto isso, um aleijadinho numa cadeira de rodas, tentava desesperadamente sair dali.
Algumas pessoas, enquanto fugiam, viram a cena, e gritaram:

- Olha o aleijado! Olha o aleijado!

E o rapaz, confinado a uma cadeira de rodas e a um pânico que paralisava já o resto do corpo, girava, girava, girava (já estou tonto...) na cadeira, mas não ia a lado nenhum. E as pessoas, com o leão a rugir pelo meio delas, continuavam a gritar:

- Olha o aleijado! Olha o aleijado!

Então, o rapaz, enervado com tudo aquilo, gritou:

- PÔRRA!!! IMPORTAM-SE QUE SEJA O LEÃO A ESCOLHER??!!


Solidariedade

Ocorreu um gigantesco terramoto na Ucrânia: Morreram 3.000 pessoas.
Os Estados Unidos enviam ajuda médica: 300 médicos e enfermeiros.
A Inglaterra envia ajuda para busca e salvamento: 150 militares com cães treinados.
Portugal envia 3.000 ucranianos para repor o stock.


Bóbell

Martim e Vanessa namoravam há pouco mais de um mês, mas já achavam que seria para toda a vida. Numa noite, pródiga em ousadias, Martim acompanha a namorada a casa.
Quando chegam à porta da casa dela, o jovem, completamente excitado, apoia-se com uma mão na parede, impedindo que a rapariga passe...

- Antes de ires, porque não me fazes uma mamada, meu amor?

- O quê??!! Estás louco???!!!

- É rapidinho... não há problema...

- Não sejas parvo! Pode aparecer alguém!!

- É rapidinho!! A esta hora não aparece ninguém, vá lá!!

- Não!!

- Só uma mamada, amor!! Eu sei que também gostas!

- NÃO!! PÁRA!! Estás louco!!

- Vá lá!! Não sejas assim!!

Nesse momento, aparece a irmã da garota, em camisa de dormir, olheiras fundas, caída de sono.
Volta-se para a irmã e diz:

- O pai mandou-te chupar o Martim... ou que eu chupasse... ou ele mesmo vem chupar, mas pelo amor de Deus, ele que tire a mão da campainha!!!

17 julho 2007

Excursões e eleições

135

FACTO:


Um meio atarantado José Manuel Mestre, repórter da SIC, fica estupefacto com as declarações dos populares que encontra a festejar a vitória de António Costa, nas eleições para a Câmara Municipal de Lisboa.
Basicamente, ninguém era de Lisboa, e sim pertencentes "ao resto da paisagem". Gente que regressava de excursões e que tinham sido "convidados" pelo PS, para aparecer por ali, a fazer número de circo. Muitos deles não conhecia Costa de parte alguma, mas já que a excursãozinha terminava com festa e petiscos... porque não?


FICÇÃO:


Agosto de 2031, Anno Domini

Cansado de uma viagem às ruínas de Conimbriga, olhos meio adormecidos atrás de uns óculos de fundo garrafal, vejo a paisagem desfilar em fotogramas desconexos, enquanto clamo pela hora de chegar a casa.

Tenho 60 anos, uma vida inteira a encurvar-me o corpo e a secar-me a alma.
O passeiozinho com os amigos do lar foi jeitoso, mas só isso.

O senhor do Centro Social, que começa sempre as frases com "de modos que", aparece no monitor de LCD, apenso nas costas do banco à minha frente.
Pergunta, numa voz distorcida pela má ligação, se gostámos da viagem e etc. e tal.
Fala muito e esbraceja muito mais. Se isto fosse o Pictionary apostava que estava a imitar uma mosca...

Uma lágrima escorre-me pelo rosto cultivado de rugas, terra estéril carente de afectos.
"Já tive aquela idade", balbucio sem emitir um som.

Procuro concentrar-me, no que o sarapitola está a dizer.

- De modos que, na volta, vamos ainda passar por Lisboa. Eu sei que não estava no programa, mas houve uma importante votação na Feira do Erotismo, de modos que vamos passar por lá, para fazer número, digo, para festejar a vitória da Cindy Mamalhuda, 'tá bem?

E de repente, cansaço, lágrimas e tristezas se desvanecem!
Nada como uma festarola com direito a mamas, croquetes e vinho tinto!

- A modos que vamos lá então, cambada! - grito com o que me resta dos pulmões, até saltar a placa.

Regresso ao Passado - Calientes de Contacto

134

Cada passo dado pelo corredor fora era uma injecção de confiança.
Redescobria rostos que antes eram difusos; apreciava as minudências das paredes, do chão, do tecto; contabilizava os números das salas, pendurados no topo das portas; e avistei, lá bem ao fundo, o André, o Pedro, a simpática Edite e todos os outros.
Sorri. Naquele dia estava a estrear os meus olhos novos.

Sou monstruosamente míope e não faço ideia porquê.
Não tenho ninguém, na família próxima, que carregue consigo um handicap de seis dioptrias em cada olho. E, no entanto, a miopia atropelou-me, galopante, aos 17 anos de idade e, durante muito tempo, fingi que continuava na plena posse das minhas faculdades visuais, só porque achava que um tipo de pele leitosa, tímido e sardento, ainda mais estranho ficaria de óculos.
Na verdade, o que perpassava pela minha mente não era o impacto estético que poderia causar nos outros. Era sim, não hipotecar as poucas hipóteses que restavam com as outras, as miúdas.

E assim, durante mais de meia dúzia de anos, interpretei, na perfeição, a personagem de Mr. Magoo enquanto jovem, com as merecidas consequências.

Nas amizades que acenavam ao longe, fui dando passos atrás: Muitos pensaram que tinha deixado de lhes falar, mas não, só tinha deixado de os ver.
Outros buzinavam, quando passavam por mim de carro, e eu acenava atabalhoadamente gritando para aqueles simpáticos vultos "Olha! O... o... coiso!"

Na secundária, fui dando passos em frente, literalmente: As últimas carteiras não me deixavam ver o quadro e, por isso, fui avançando, até que um dia nada mais restava à minha frente a não ser a ardósia e os professores. E, olha... a professora de Geografia afinal era um gajo! Bolas! E eu que tinha uma paixão por aquela professora...

E à noite, uma simples ida à saudosa esplanada do Pátio da Vila, era um tormento.
Praticamente tinha que vasculhar de perto todas as mesas, à procura do meu grupo.
Pior: cada vez era mais difícil descobrir no meio daquela confusão, a menina que amava quase platonicamente. Felizmente, ela e a turminha dela tinham lugar fixo.

Assim, relembro com um sorriso condescendente, aquele mês de Abril de 1995 e o dia em que vi a Universidade Autónoma de Lisboa com um novo olhar, proporcionado por um par de lentes de contacto, uma das maiores invenções do passado século.

Foram dias extraordinários, calientes de contacto, porque tudo parecia agora redesenhado pela mão firme de Deus.
As figuras esbatidas ganhavam contornos definidos, uma tarde na Biblioteca Nacional revelou-se um dos primeiros banquetes para os olhos e, acima de tudo, já podia desviar-me melhor do trânsito enlouquecido (ou dos enlouquecidos no trânsito), dos buracos, do lixo das ruas, e da caca dos pombos e dos bobis. Nem tudo são maravilhas.

Que Deus me conceda a dádiva da visão por muitos e bons anos.
Acima de tudo não quero deixar de ver quem mais amo: a minha mãe, o meu pai, o meu irmão, o meu sobrinho e a minha princesa.
Olhos que não veem, coração que não sente? O tanas!
Saudade é uma palavra que cega e mata de amor.

13 julho 2007

Cocktails de Verão - Tequilla Sunrise

133


4. Tequilla Sunrise


Origem:
Por incrível que pareça, a autoria desta bebida é creditada a Mick Jagger, líder carismático de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, os Rolling Stones.
Jagger nunca trabalhou como barman, mas digamos que ele e as bebidas sempre foram grandes amigos. Um líder de uma banda viciado em álcool? Surpreendente.
No final dos anos 70, durante uma tournée pelos Estados Unidos, Mick Jagger foi proibido de ingerir bebidas alcoólicas pelo médico que acompanhava a banda. O cantor britânico não se conformou e inventou uma forma de enganar o médico e até o guitarrista Keith Richards, que passava a vida a gozar com tudo aquilo, bebendo doses e doses de vodka, mesmo na cara dele.
Jagger passou a misturar sumo de laranja com tequilla, dando a impressão que não bebia mais do que exóticos sumos de fruta. A burla só foi revelada no final da temporada e sempre com o cantor de boa saúde.
Mais tarde, o cocktail foi aperfeiçoado com a adição de grenadine.


Ingredientes: 2 partes de tequilla
4 partes de sumo de laranja
grenadine
uma laranja
duas cerejas

Preparação: Num copo bem longo, coloque três ou quatro cubos de gelo. Depois misture a tequilla e o sumo de laranja. Acrescente algumas gotas de grenadine, sem mexer mais.
Decore com uma fatia de laranja e duas cerejas.
Agora já pode sair por aí meio bêbedo a cantar "I can get no satisfaction"


Atenção: A autoridade para a consciência ética e moral do "Eldorado" adverte que se beber, não deve conduzir, mesmo que se chame Jorge Palma. Mais, adverte ainda que beber para esquecer pode levar a que decida mijar atrás do balcão do bar, pensando que é ali a casa-de-banho. O que pode ser fatal se for noite de farra do pessoal da ASAE.

POR MANIFESTA INCOMPETÊNCIA, HÁ EM BAIXO DESTE "COCKTAIL DE VERÃO", UM TEXTO NOVINHO EM FOLHA, QUE DEVERIA TER SIDO PUBLICADO MAIS ACIMA.
CHAMA-SE "FRIDAY 13TH - O ATAQUE DAS TARTARUGAS DENTUÇAS".
MUITO OBRIGADO PELA VOSSA COMPREENSÃO.

Friday 13th - O Ataque das Tartarugas Dentuças

132

Os olhos ensonados fixaram-se na modorria do tecto asséptico. Do lado direito, uma daquelas traquitanas que espirram água em caso de incêndio. Do outro lado, uma espécie de candeeiro vomita uma espécie de luminosidade.

De súbito, um objecto escuro e barulhento rasga a quietude e alvura do cenário, desfaz em pedaços pensamentos libidinosos com suecas em topless a ordenhar vacas e precipita-se sobre mim.
Abro a boca. Não de espanto, mas porque a isso sou obrigado.
Indefeso e submisso. Desejando que tudo acabe depressa.
Como é que vim parar aqui?


***


Não deve haver coisa mais fascinante no mundo, do que acordar cedo numa manhã de sexta-feira 13 para ir ao dentista.

A última vez tinha sido há ano e meio, o que significa que já consigo obrigar-me a ir ao dentista, mais ou menos regularmente. Mais ou menos.


Não sou daquelas pessoas que têm medo de ir ao dentista.
De todo.

Eu tenho é medo de ir a qualquer médico, nem que seja só para ir lá dar-lhe um abraço. E um dia que morra, vou estar a tremer de medo por causa da autópsia. Sou bem capaz de morrer outra vez, se for caso disso!!


E, então, lá foi o JP ao dentista, numa sexta-feira 13, com o único objectivo de não desmaiar desta vez.

Antes, já tinha inspeccionado a bocarra, em ridículas sessões de boca aberta encostado ao espelho que retribuía a imagem de um palhaço a embaciar um espelho.
Não via nada.

No entanto, chegado à cadeira do dentista, que por acaso é uma dentista, uma auditoria às contas da minha câmara dentária, revelou uma irregularidade.
Não é caso para destituir o executivo, mas há um vereador que precisa de ser posto na ordem.
É o melhor eufemismo que encontro para dizer que tenho de arranjar um dente. Um pré-molar. Meio doentinho por dento.
Nada denunciador por fora.
O malandro.

- Isso fica para outra altura, mas podemos já fazer a limpeza! - disse a simpática e eficiente doutora.

Pois podemos.
Yupi.
Até diria que estou a espumar-me de felicidade , mas não, é das merdas que me está a pôr dentro da boca. Não, não a levo a mal. É o seu trabalho. Na minha boca.

Chama-se à coisa, "Destartarização". Que é como quem diz, retirar pedaços de tartaruga que se alojaram na dentadura. Parece que temos de lavar os dentes depois das refeições e antes de ir para a cama, ou as malditas tartarugas atacam a dentição humana.
Além de lavar os dentes regularmente, continuo a viver num 3º andar e ainda estou para saber como é que hordas de tartarugas selvagens sobem lá acima para atacar a boca do menino durante o soninho...

Vamos então à destartarização.
Vrummm! Swich! Swich!
Entra em acção brocas, espátulas de metal brilhante e até chaves de fenda se tiver de ser.
De tudo a dentista deita a mão para combater o tártaro da vítima, perdão, do paciente.
E, de facto, é preciso ser paciente para aguentar meia hora de escarafunchanço mecânico. Isto deve ser mais ou menos o que eu sentiria se fosse uma mina em Aljustrel...

Basicamente abre-se a boca e esguicha-se sangue. É como que pagar para levar um murro nos beiços. Mas medicamente assistido, deitado em cadeirão reclinável, com televisão na SIC Notícias. Com estilo.
Enquanto se engole uma mistela de tártaro, sangue e sei lá mais o quê.

E as máquinas fizeram "Fzzzzimmm!!"
E eu respondi "Blurp... Glup... Blurp..."

Na sala ao lado, o outro dentista daquele consultório que, só para distrair quem ali vai, é ainda sobrinho ou primo, ou lá o que é, do Ramalho Eanes, entretém o melhor que pode um gaiato de oito anos...

- Estás com medo?
- Não.

"Não?!" Fedelho armado em bom.
Pois eu estou com medo.

Doutor!! Aqui!! Deste lado!! EU tenho medo! O que é que eu ganho?

Fziiiimm... Rummmmmmmmmmmmmmm....
Parece que acabou. Cá fora, fecho os olhos ao sol que me beija as pálpebras em miminhos cósmicos.

Parece que saí incólume daquela sala de tortura.
Foi só uma limpeza de tártaro, mas sinto-me mais corajoso que Átila, o Huno.

Próxima sessão de sado-masoquismo marcada só para Setembro, já que a dentadura, digo ditadora, digo doutora, vai de férias.
Tempo para esquecer a minha crónica hipocondria, o medo e até as superstições.

Até porque 11 de Setembro, além de ser 11 e não 13, "não calha" a uma sexta-feira.
Não há espaço para mais superstições e...
11 de Setembro???

Nããããããããooooooooooo!!!!!!!!!


09 julho 2007

Dias Gigantes

131

A nação caramela vibrou, durante três dias, com um dos mais impressionantes festejos de cariz pagão realizados em Portugal: O FIG - Festival Internacional de Gigantes.

O certame realiza-se de dois em dois anos, nos anos ímpares e é efectivamente ímpar e imensamente singular, uma espécie de circo ao ar livre, com malabaristas, cuspidores de fogo, marionetes, cabeçudos, gigantones, gaitas de fole e muitos outros instrumentos de sopro, bombos e muitos outros instrumentos de percussão, artesanato feito de pulseirinhas, fios, anéis e amuletos multicolores, palcos e tasquinhas, teatros do burlesco e do absurdo, e tudo envolto num delicodoce aroma a pólvora e marijuana.

O desfile final, com todas as colectividades participantes, percorreu, com raro fascínio, as duas principais avenidas do Pinhal Novo.
Milhares de pessoas assistiram aos dois desfiles, o da tarde e o da noite.

Jamais tinha assistido a tão louca peregrinação. E tão longa. Uma hora de euforia pagã pontuada por vertiginosos rodopios de gigantes de três metros de altura, ritmos profissionalmente bombados e espontaneamente coreografados, com destaque para os fabulosos Gegants del Drac D'Or, da Catalunha.
Tudo isto oferecido gratuitamente à populaça, que já espera por 2009.

Imaginem que o pessoal do Chapitô enfardava uns speeds e saía em imensa turba da Costa do Castelo para invadir Lisboa. Já imaginaram?
Pois o FIG é mais ou menos isso.

Ó JP! E tu já não podias ter falado disto mais cedo, para o pessoal ter ido ao Pinhal Novo ver esses gigantes, ou lá o que é?
Pois podia... mas depois teria que estacionar o carro a dois quilómetros de casa...
De qualquer forma, há mais em 2009. Ponham na agenda. Vale a pena.
Quem não vier é cabeçudo.

06 julho 2007

7 Wonders - My choice

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Da esquerda para a direita, em cima:

  • Taj Mahal, Índia (1652)
  • Estátua da Liberdade, EUA (1886)
  • Coliseu de Roma, Itália (cerca de 80 d.C.)
Ao centro:
  • Torre Eiffel, França (1889)
Da esquerda para a direita, em baixo:
  • Kremlin, Rússia (1495, ainda sem as actuais cúpulas)
  • Cristo Redentor, Brasil (1931)
  • Ópera de Sydney (1973)

Cocktails de Verão - Dry Martini

129

3. Dry Martini


Origem:Em 1910, ao balcão do Hotel Knickerbocker, o barman John Martini atendeu o pedido do magnata norte-americano John D. Rockfeller, que desejava algo simples, mas diferente.
E começa aí a discussão sobre a receita original do Dry Martini (a bebida mais clássica e pedida do mundo) : uma dose de gin e cinco gotas de vermute? Ou duas doses de gin e uma de vermute?
A polémica sobre a sua receita original é tão grande que, numa de suas passagens por Veneza e pelo conceituado Harry's Bar, o escritor norte-americano Ernest Hemingway lançou a frase: "Se algum dia você vier a perder-se na selva africana, não desespere. Sente-se sobre uma pedra e comece a preparar um Dry Martini. Em menos de cinco minutos vai aparecer alguém a dizer que as doses de gin e vermute estão erradas."
A maior fatia de fama do Dry Martini deverá, no entanto, ser atribuída a James Bond. O agente 007 ao serviço de Sua Majestade é um incondicional da bebida. A frase é célebre: "Stirred, not shaken", algo como "mexido, nunca agitado".

Ingredientes: Uma dose generosa de gin Gordon's ou Bombay.
Cinco gotas de vermute Noilly Pratt.
Limão.
Uma azeitona verde.
Gelo.

Preparação: Antes do mais, escolha uma taça de haste fina e rebordo delicado e deixe-a no congelador por alguns minutos.
Prepare o cocktail num copo misturador, o chamado mixin glass. Ponha entre quatro e seis pedras de gelo inteiras. Gele bem o copo e escorra o excesso de água.
Despeje sobre o gelo uma dose generosa de gin. Pingue sobre o gin cinco gotas de vermute. Com uma colher longa mexe a bebida com movimentos rápidos e vigorosos. Lembre-se: o cocktail é mexido, nunca batido.
Retire a taça do congelador e, usando um coador de bar, despeje a bebida na taça. O Dry martini é sempre servido sem o gelo.
Corte uma casca de limão, retirando com cuidado a polpa branca. Esprema de modo a que o sumo caia sobre a mistura. Passe a casca em todo o rebordo da taça. Espete uma azeitona cerde num palito e coloque no cocktail.
Já está.


Atenção: A autoridade para a consciência ética e moral do "Eldorado" adverte que se beber, não deve conduzir, mesmo que se chame Rui Veloso. Mais, adverte ainda que beber para esquecer pode levar a que não se lembre onde mora. O que não será mau de todo, caso tenha fugido da prisão nessa manhã.

05 julho 2007

Postais Caramelos 6 - Trolarós e Tinónis

128

Confesso que às vezes sinto o apelo do palco.
Algo revolve as entranhas, chocalha o coração e inunda o cérebro de adrenalina, compondo algo a que muitos chamam "coragem".
Eu chamo-lhe um "devaneio patético".

O fascínio vem dos tempos de primária, quando faltei à festa de encerramento de um qualquer ano lectivo, a ter lugar nos Bombeiros Voluntários do Pinhal Novo.E não foi bem deixar uma cadeira vazia na plateia. Eu ia para cima do palco cantar, juntamente com dois ou três outros petizes, num mini-coro em todos os sentidos. E depois havia uma mini-vocalista ou um mini-cantorzinho, já não sei bem.

No dia D, na hora H, estava ainda eu nos braços de Morpheu e, quando acordei e percebi que não chegaria a horas, fiquei ao mesmo tempo preocupado (por ter falhado o meu primeiro compromisso a sério) e aliviado (exactamente pela mesma razão).
Pois é, esta história ninguém conhecia.
Eu fui um "menino de coro".
Podem achincalhar à vontade.
Já chega.

Um par de anos mais tarde, nova festa de fim de ano lectivo, desta vez correspondente ao primeiro ano de ciclo preparatório. Novamente nos Bombeiros.
Não me voluntariei para qualquer espécie de actuação e só fugazmente passei pela plateia.
No palco, um dos mini-galãs da altura cantava uma versão do hit "Cavalos de Corrida". Rebolava as ancas pueris, fazia boquinhas, passava as mãos pelo cabelo e as meninas deliravam. Vim-me embora.
Fobia social e ciúmes de todos e de tudo, por tudo e por nada, vêm de longe.
Código genético.

Pior ainda aconteceu há dois anos. Mesmo intoxicado de anti-depressivos e submerso em delirantes trips hipocondríacas, qual clone de Woody Allen num filme do próprio, resolvi estrear-me na stand-up comedy.
Local?
Os Bombeiros... em dia de aniversário da corporação.
Não me deram o palco, o horário nobre, nem sequer um bom microfone.

Numa coxia, entre mesas de pratos vazios e copos meio-cheios, desbobinei uma série de piadas e uivantes falsetes, numa performance amadora, débil e de triste memória. Espécie de amálgama de sons entrecortados, mal interpretados e praticamente inaudíveis.

Este ano, à revelia de um certo tipo sarapintado, as imagens da tarde caramela mais kitsch de sempre, chegaram à internet. Ficam a faltar as imagens em vídeo para correr no Youtube...
Em 20 minutos, estreia e fim de carreira. Meteórico.

***


Para lá do glamour do seu palco, os Bombeiros Voluntários do Pinhal Novo não se coibem de dar espectáculo cá fora.
A despeito da condição de voluntariado, exercem as suas funções em over-acting, tipo de papoilas saltitantes viciadas no ópio decibélico das sirenes... Adoram o espalhafato de uma saída de emergência. Pelam-se por simulacros profusamente documentados em película fotográfica.
Generalizo, é certo.
Pior, posso estar a tomar uma parte pelo todo, mas é uma ideia enraizada e não só na minha cabeça.

No catálogo de itens nada espectaculares, incluem-se:

- A exorbitância paga aquando do serviço de ambulâncias, mesmo em relação a sócios.
- Ou o irritante mantra entoado todas as sextas-feiras pela fanfarra. Nos últimos anos ouvi dezenas de populares incendiados com a mesma pergunta: "Eles não sabem tocar outra coisa?"

- E o que dizer, finalmente, do cancelamento do site dos Bombeiros Voluntários de Pinhal Novo, inúmeras vezes elogiado até por outras corporações e tido como paradigma daquilo que poderia ser "O Portal do Pinhal Novo na Internet"?

Eis algo que se perde e nada se transforma.


Caro leitor, se é bombeiro espero que não leve as críticas demasiado a peito.
Não venho aqui deitar achas para a fogueira. Já basta o Verão quente que aí vem.
Mas, bem-dito 25 de Abril do século passado e bem-dita blogosfera deste século, a opinião é livre e não poderão ser detidas Charruas ou auto-tanques.

Além do mais, só apontei três ou quatro pontos negativos.
E não sou estúpido. Sei que o serviço que os Bombeiros Voluntários do Pinhal Novo prestam à vila é inegável. A história destes soldados da paz da nação caramela confunde-se com a história pinhalnovense.
Basta ver o sentimento de orfandade que assolou a vila quando, por uns meses, a sirene deixou de soar ao meio-dia.

É uma imagem de marca.

Mas vejam lá isso do preço das ambulâncias.
E aquilo da ladainha da fanfarra.
E ressuscitem o vosso site.

E assim de repente, não era mais nada.
Muito obrigado e cumprimentos a todos, em especial à Labaredas, a vossa cadela mascote.

03 julho 2007

Almanaque

127

Do Amor e do Querer

Quem me dera andar exultante, a amaranhar pelas paredes, mas ainda não é o momento para volatizar-me em fogo de artífício.
Mas lá chegarei.
Juro.

Ainda assim, não posso deixar passar em claro estas duas datas, 02 e 03 de Julho, caprichosamente arrumadas pelas normas do calendário gregoriano numa segunda e terça-feira, início de semana, definitivamente diferente da mística de um sábado e domingo.
Mas o que interessa, no fundo, são as pessoas, não os números.

Assim, venho por este meio parabenizar os 61 anos de uma data que me é muito querida.
E os dois anos de outra data não menos importante.

Amo-os aos dois, intensamente.
Quero-os comigo por muito mais tempo.

Como costumo dizer:
"Obrigado por estarem na minha vida"


Vox Emporium


Prémio "Não Será um Traque?"
"Nos primeiros três minutos, sinto que o traseiro me vai cair.
Depois dá-se um clique e começo a divertir-me."
Júlia Pinheiro, sobre o seu programa das tardes, ao "24 Horas".

Prémio "Os Bois Pelos Nomes"
"O 'Domingo é Domingo' era um programa desgraçado.
Éramos seis apresentadores. Parecia aquelas touradas em que anunciam 'seis touros, seis!'"
Eládio Clímaco, na "Sábado".

Prémio "Óscar Para 'Melhores Nádegas Secundárias'"
"Usar umas nádegas postiças em 'Volver' fez-me trabalhar de um modo diferente. Foi quase como encontrar os sapatos certos para a personagem."
Penélope Cruz, na "Newsweek".


La Vie en Rose


O Benfica apresentou aos media, patrocinadores, adeptos e simpatizantes as "novas fardas" para a próxima época.
No equipamento principal, o vermelho tornou-se mais garrido, para dar razão às palavras cantadas por Piçarra, quando, à beira de um AVC, berrava as "papoilas saltitantes".

À partida, este up-grade escarlate nas camisolas dos lampiões, não traz qualquer problema aos dois principais inimigos dos benfiquistas: os sportinguistas e os touros.

- Os sportinguistas porque, independentemente da tonalidade, estão habituados a voltar a cara para o lado, sempre que o Benfica joga, a menos que seja assinalado um penalty frente à baliza de Quim. Ou do Moreira. Ou do Moretto. Ou qualquer outro banana.
- Os touros, porque é não é a Caixa Campus do Benfica que está em Alcochete. É o Sporting, que equipa de verde. Os meninos de Fernando Santos estão assim seguros no Seixal.
Em princípio.

Já a cor do equipamento alternativo tem muito que se diga.
Uma linda camisolinha cor de rosa!!
Se juntarmos a isso o facto de também a Pantene Pro-V anunciar a melhoria de fórmula dos seus shampoos, é caso para dizer que Nuno Gomes tem tudo para fazer uma grande época.

Aliás, o próprio Ricardo Araújo Pereira já veio a público comentar as belas camisolinhas.
O vídeo, produto-gourmet das Produções Fictícias, bateu ontem (02/07/2007) o recorde de visionamentos em Portugal. Mais de 100 mil pessoas foram espreitar.
É com esse vídeo que vos deixo por hoje.
Até breve.