Confesso que às vezes sinto o apelo do palco.
Algo revolve as entranhas, chocalha o coração e inunda o cérebro de adrenalina, compondo algo a que muitos chamam "coragem".
Eu chamo-lhe um "devaneio patético".
O fascínio vem dos tempos de primária, quando faltei à festa de encerramento de um qualquer ano lectivo, a ter lugar nos Bombeiros Voluntários do Pinhal Novo.E não foi bem deixar uma cadeira vazia na plateia. Eu ia para cima do palco cantar, juntamente com dois ou três outros petizes, num mini-coro em todos os sentidos. E depois havia uma mini-vocalista ou um mini-cantorzinho, já não sei bem.
No dia D, na hora H, estava ainda eu nos braços de Morpheu e, quando acordei e percebi que não chegaria a horas, fiquei ao mesmo tempo preocupado (por ter falhado o meu primeiro compromisso a sério) e aliviado (exactamente pela mesma razão).
Pois é, esta história ninguém conhecia.
Eu fui um "menino de coro".
Podem achincalhar à vontade.
Já chega.
Um par de anos mais tarde, nova festa de fim de ano lectivo, desta vez correspondente ao primeiro ano de ciclo preparatório. Novamente nos Bombeiros.
Não me voluntariei para qualquer espécie de actuação e só fugazmente passei pela plateia.
No palco, um dos mini-galãs da altura cantava uma versão do hit "Cavalos de Corrida". Rebolava as ancas pueris, fazia boquinhas, passava as mãos pelo cabelo e as meninas deliravam. Vim-me embora.
Fobia social e ciúmes de todos e de tudo, por tudo e por nada, vêm de longe.
Código genético.
Pior ainda aconteceu há dois anos. Mesmo intoxicado de anti-depressivos e submerso em delirantes trips hipocondríacas, qual clone de Woody Allen num filme do próprio, resolvi estrear-me na stand-up comedy.
Local?
Os Bombeiros... em dia de aniversário da corporação.
Não me deram o palco, o horário nobre, nem sequer um bom microfone.
Numa coxia, entre mesas de pratos vazios e copos meio-cheios, desbobinei uma série de piadas e uivantes falsetes, numa performance amadora, débil e de triste memória. Espécie de amálgama de sons entrecortados, mal interpretados e praticamente inaudíveis.
Este ano, à revelia de um certo tipo sarapintado, as imagens da tarde caramela mais kitsch de sempre, chegaram à internet. Ficam a faltar as imagens em vídeo para correr no Youtube...
Em 20 minutos, estreia e fim de carreira. Meteórico.
***
Para lá do glamour do seu palco, os Bombeiros Voluntários do Pinhal Novo não se coibem de dar espectáculo cá fora.
A despeito da condição de voluntariado, exercem as suas funções em over-acting, tipo de papoilas saltitantes viciadas no ópio decibélico das sirenes... Adoram o espalhafato de uma saída de emergência. Pelam-se por simulacros profusamente documentados em película fotográfica.
Generalizo, é certo.
Pior, posso estar a tomar uma parte pelo todo, mas é uma ideia enraizada e não só na minha cabeça.
No catálogo de itens nada espectaculares, incluem-se:
- A exorbitância paga aquando do serviço de ambulâncias, mesmo em relação a sócios.
- Ou o irritante mantra entoado todas as sextas-feiras pela fanfarra. Nos últimos anos ouvi dezenas de populares incendiados com a mesma pergunta: "Eles não sabem tocar outra coisa?"
- E o que dizer, finalmente, do cancelamento do site dos Bombeiros Voluntários de Pinhal Novo, inúmeras vezes elogiado até por outras corporações e tido como paradigma daquilo que poderia ser "O Portal do Pinhal Novo na Internet"?
Eis algo que se perde e nada se transforma.
Caro leitor, se é bombeiro espero que não leve as críticas demasiado a peito.
Não venho aqui deitar achas para a fogueira. Já basta o Verão quente que aí vem.
Mas, bem-dito 25 de Abril do século passado e bem-dita blogosfera deste século, a opinião é livre e não poderão ser detidas Charruas ou auto-tanques.
Além do mais, só apontei três ou quatro pontos negativos.
E não sou estúpido. Sei que o serviço que os Bombeiros Voluntários do Pinhal Novo prestam à vila é inegável. A história destes soldados da paz da nação caramela confunde-se com a história pinhalnovense.
Basta ver o sentimento de orfandade que assolou a vila quando, por uns meses, a sirene deixou de soar ao meio-dia.
É uma imagem de marca.
Mas vejam lá isso do preço das ambulâncias.
E aquilo da ladainha da fanfarra.
E ressuscitem o vosso site.
E assim de repente, não era mais nada.
Muito obrigado e cumprimentos a todos, em especial à Labaredas, a vossa cadela mascote.
A despeito da condição de voluntariado, exercem as suas funções em over-acting, tipo de papoilas saltitantes viciadas no ópio decibélico das sirenes... Adoram o espalhafato de uma saída de emergência. Pelam-se por simulacros profusamente documentados em película fotográfica.
Generalizo, é certo.
Pior, posso estar a tomar uma parte pelo todo, mas é uma ideia enraizada e não só na minha cabeça.
No catálogo de itens nada espectaculares, incluem-se:
- A exorbitância paga aquando do serviço de ambulâncias, mesmo em relação a sócios.
- Ou o irritante mantra entoado todas as sextas-feiras pela fanfarra. Nos últimos anos ouvi dezenas de populares incendiados com a mesma pergunta: "Eles não sabem tocar outra coisa?"
- E o que dizer, finalmente, do cancelamento do site dos Bombeiros Voluntários de Pinhal Novo, inúmeras vezes elogiado até por outras corporações e tido como paradigma daquilo que poderia ser "O Portal do Pinhal Novo na Internet"?
Eis algo que se perde e nada se transforma.
Caro leitor, se é bombeiro espero que não leve as críticas demasiado a peito.
Não venho aqui deitar achas para a fogueira. Já basta o Verão quente que aí vem.
Mas, bem-dito 25 de Abril do século passado e bem-dita blogosfera deste século, a opinião é livre e não poderão ser detidas Charruas ou auto-tanques.
Além do mais, só apontei três ou quatro pontos negativos.
E não sou estúpido. Sei que o serviço que os Bombeiros Voluntários do Pinhal Novo prestam à vila é inegável. A história destes soldados da paz da nação caramela confunde-se com a história pinhalnovense.
Basta ver o sentimento de orfandade que assolou a vila quando, por uns meses, a sirene deixou de soar ao meio-dia.
É uma imagem de marca.
Mas vejam lá isso do preço das ambulâncias.
E aquilo da ladainha da fanfarra.
E ressuscitem o vosso site.
E assim de repente, não era mais nada.
Muito obrigado e cumprimentos a todos, em especial à Labaredas, a vossa cadela mascote.
5 comentários:
JP, explica-me o que é que se passa em Pinhal Novo para fazer crescer gente como legumes no Entroncamento!
Recebi um convite para o Festival dos Gigantes Caramelos (!!!), e fiquei a pensar, depois de ler este post, que os bombeiros daí não podem ser maus. Se até nem precisam de escadas...
bjs
ana
A.V.:
Antes que as labaredas chamusquem, devo dizer que NÃO ESCREVI QUE OS BOMBEIROS ERAM MAUS!!!
Quanto ao Festival Internacional de Gigantes, vale a pena fazer uma visita.
O Festival, bi-anual, é internacional e é também a melhor oportunidade de entrar num filme de Tim Burton sem autorização do próprio.
E só agora percebi a sofisticação da tua piada "crescer gente/legumes no entroncamento/bombeiros que não precisam de escadas".
Muito boa, sim senhor.
Que tal criarmos uma alternativa válida às Produções Fictícias?
Beijos.
E porque não?
Conheço alguns dos PF's, por acaso. São bons mesmo, mas precisam de concorrência para não adormecerem no posto qualquer dia.
Aceitam-se sugestões para o nome da nova empresa.
bjs
ana
"Portas do Eldorado"?
Pelo menos aparece primeiro na lista telefónica...
Beijos.
Parece-me bem. Ou então Eldorado ao Vento (tipo cabelos ao vento), que aparece na lista ainda antes dos Gato Fedorento!
Cheira-me que vai ser um sucesso.
bjs
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