19 fevereiro 2008

Fumo Molhado

O Eldorado - Edição nº 211

Eu não fumo mas fumego pelas orelhas com notícias molhadas como as de ontem.
Então entre mortos e feridos, desalojados e desaparecidos, carros arrastados e casas caídas, tudo por causa das cheias, onde estão as notícias sobre o desaparecimento dos fumadores à porta de cafés e restaurantes?

Como jornalista, que alguns acusam de meia tigela (mas debalde o fazem, o que acho bem porque há que tirar a avó daquela poça de água que já pôs o frigorífico a boiar) parece-me pertinente fazer o rescaldo verde de uma situação que não foi abordada.

Tenho conhecimento que dezenas - que digo? - centenas de fumadores foram arrastados pelas cheias, ainda de cigarro orgulhosamente aceso, como se fossem portadores da tocha olímpica dos vícios discriminados.

Só em Setúbal, vi com estes olhos que a terra há-de comer, menos o de trás, várias dezenas de fumadores a deslizar junto à Praça do Bocage, rumo ao Sado, com direito a mergulho pontuável por júri internacional, como se Setúbal tivesse finalmente um Aquaparque à altura da sua histórica capacidade de meter água em quase tudo.

Vi gente em cima de árvores a enrolar charros e botes de salvamento com o célebre dístico de "Não Fumadores", inviabilizando o resgate de três tuberculosos que acendiam cigarro com cigarro como se não houvesse amanhã.
Lamentável, senhores.

Alguns restaurantes, que já disponibilizavam um casaquinho e alguns pares de cinzeiros para os adictos se sentirem num gulag mais simpático à porta dos restaurantes, passaram também a ceder algumas bóias e patinhos de borracha.

Cafés de proprietários xico-espertos e com jeito para o negócio engendraram promoções do género "Bica e bagaço - 1 euro ; dá direito a um par de barbatanas".

Enfim, Portugal, como sempre, adaptou-se às circunstâncias, mas repito: há dezenas de fumadores desaparecidos e pior que deixarem putos para criar e contas para pagar, é saber que alguns, estejam onde estiverem, só têm tabaco para mais umas horas.

Por isso, se és fumador e estás perdido algures debaixo de uma ponte submersa, à beira da hipotermia e - ó céus! - sem tabaco, não desesperes.
Em breve, um cardume de sereias a estagiar na Autoridade Nacional de Protecção Civil passará por aí com alguns maços de tabaco.
Mas parece que já só há SG Ventil.

7 comentários:

Mad disse...

Malvado!!! LOOOOOL!

João Paulo Cardoso disse...

Mad:
Malvado, molhado e mal pago.
Felizmente sei nadar até a um bom porto de abrigo.

Beijos.

MariaV disse...

Lindo!

João Paulo Cardoso disse...

mariav:

Eu? Ah, o texto.

Uma lenda urbana diz que quando o texto secar deixa de ter piada.
Por isso borrife o seu computador com água várias vezes ao dia ou então borrife-se para isso.

Ah, e bem-vinda seja a esta tasca que há ano e meio serve melancolia e humor negro.

Pena ter chegado quase no fim.
É que faltam apenas 10 semanas para fecharmos portas.

Beijos.

ana v. disse...

Estás em contagem decrescente, JP? Eu já estaria de lágrima no olho, se não te tivesse descoberto a careca... sádico!

Livra-te de mudar de ideias e... fechar mesmo a chafarica (sem comprar o alvará de outra qualquer, pelo menos)

beijinhos
ana

N.M disse...

Isto da chuva, deu muitos problemas aos fumadores..principalmente aqueles desaparecidos!!!

Abraço....llolololololol

Sofia K. disse...

Mas tu foste com as chuvas ou ficaste encantado pelas sereias?

beijinhos
p.s. Vês, tu não escreves, não chove!