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Todos nós abocanhámos o mesmo tipo de biberão no princípio de tudo.
Alguns de nós ainda têm a sorte de reviver esse genesis mamário, agora numa vertente claramente mais lúdica.
Algumas de vós também.
Suas malucas.
Mas a partir daqui, cada um de nós comeu coisas diferentes e...
Bolas! Ainda agora só pus os talheres e isto já está a descambar!!
Enfim, o que eu queria fazer neste post de "Regresso ao Passado" era abrir o apetite para sabores de outrora, ou aventuras gastronómicas do tempo da outra senhora. Por exemplo, a senhora minha avó Catarina
A minha avó Catarina tinha, e ainda tem a título póstumo, o estandarte para "A Melhor Cozinheira da Família", embora a minha futura sogra prepare-se para conquistar o tal estandarte, quando se tornar membro efectivo da minha família. Ou eu da dela.
Mas a minha avó tinha aquele toque... ann... conventual, por assim dizer.
Recordo com saudade dos belos nacos de carne assada, adormecidos indefesos em dunas de puré de batata, polvilhado com noz moscada. Nham, nham!
Ou o seu leitoso arroz doce, orgasmicamente generoso em canela.... Nham, outra vez.
Nos últimos tempos de vida, minada pela doença que a fez colocar pela última vez os talheres do lado direito, a mão fugiu-lhe um pouco porque a cabeça fugiu-lhe ainda mais.
O meu avô, mais letal que a pimenta em matéria de críticas, para mais acicatado por um tempero de malagueta comunista que nunca o abandonou, foi implacável no arrazoado com que avaliou um célebre arroz doce de um dos natais da década de 80.
Estava durinho o arrozito. E para exemplificar que aquilo estava mais para o cru do que para o cozido, o meu avô Henrique, que também já cumprimenta Lenine no Além, retirou um ou dois bagos da boca, olhou exaltado para a minha avó, e arremessou com violência os bagozitos de arroz contra o tampo da mesa, ao mesmo tempo que gritava:
- Olha-me para esta merda!! Até salta!!
E sim, ricochetearam como balas no tampo da mesa e acertaram-nos perto dos olhos e ainda bem que foi só assim, para que eu posso estar agora aqui a escrever isto.
Houve também aquela bela tarde de calor que, atiçado pela sede e pela gulodice, flirtei com um copo de sumo amarelinho, que piscava-me o olho no lava-louças. Mas havia algo de estranho naquele quadro. Os sumos amarelinhos, ou de qualquer outra cor, não costumavam ficar ali.
Hummm... o pequeno JP depressa desconfiou e mais depressa ainda indagou a sua avozinha...
- Ó avó, porque tens umas orelhas tão grandes?
Ai, desculpem. Isto é de outra estória.
- Ó avó! Isto que está aqui num copo, no balcão, é sumo ou outra porcaria qualquer que vai servir para fazer uma linda piada, baseada em factos reais, para pôr na internet?
- É sumo e a internet ainda não foi inventada.
- Ah, 'tá bem...
Meia hora depois, no posto de saúde:
- Então, este menino bebeu um copo inteiro de Sonasol, não foi? Isso deve estar a arder muito, não está? Olha, como é que te chamas?
- Jfgkjsxwkmmm....
Tenho saudades da minha avó.
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9 comentários:
You dit it again!
Cá estou eu agarrada à barriga a rir... e com uns apetites doidos de arroz doce.
Continua, por amor de Deus!
Mad:
"Continua, por amor de Deus!"
Já ouvi esta frase, noutras circunstâncias... onde é que foi?
Ah, já sei.
Pois continuarei, então.
A escrever.
Querido JP,
Que texto delicioso!!! Já estava a estranhar a ausência.
Continua, continua (e não me venhas com essa do "já ouvi esta frase, noutras circunstências..." senão apanhas!!!)
Beijos:)
"Continua, continua" e depois apanhar,ainda não experimentei.
Oops!!
Ainda bem que gostaste, Florita.
Agora para algo sério. E triste:
Muitas destas ideias nascem na curta viagem de popó entre Pinhal Novo e Setúbal.
E vinha hoje muito bem entretido a rendilhar o texto na minha cabeça, quando vejo o que menos gosto de ver nas estradas.
A história envolve cães descuidados e condutores acelerados. E não digo mais nada.
Sei que fiz um esforço enorme para vir escrever na mesma, mas o meu dia está estragado desde aquele momento.
Só continuo a escrever porque vocês pedem.
E eu cheia de cuidados contigo e tu vais-me ao blog (salvo seja) abardinar aquilo tudo!
Ai que o menino é mau:(
Hummmm... acho que o arroz doce da avó Catarina ficava bem no meu blog comestível! Sem avô com mau feitio, claro, porque mesmo quando fica duro é bom (isto agora soou-me mal, não sei porquê...). Adiante.
Obrigada pela sugestão do Pasteis de Nada e também, uma vez mais, por esta sopa de letras deliciosa que é o Eldorado.
Bjs
Ana
Ana:
Deixando um pouco de lado os trocadilhos de cariz brejeiro (que estão com cotação baixa na bolsa de valores da blogosfera, mas que se lixe, o meu próximo post volta à carga...), fico uma vez mais agradecido pelos seus comentários.
E devo confessar que não tenho ido ler os "Pastéis de Nada", porque a balança e o espelho não mentem e só de olhar para o blog fico mais balofo.
Beijos.
As avós são do best, eu tenho saudades das minhas!!!
Epa essa so sonasol foi má, mas...engraçada!!!
abraço
n.m:
Ai, a do Sonasol foi engraçada, meu marafado?
Pois bebe lá um bocadinho para eu também achar graça!!
Raios!!
(Estou a brincar. De facto, hoje dá para rir do assunto, mas na altura foi complicado.)
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