16 fevereiro 2007

Leões e Caramelos

ESPECIAL POST Nº 50
Crónica do Pinhalnovense x Sporting com uma semana de atraso.

Meia dúzia de caramelos comeu um leão guloso numa cinzenta tarde de Fevereiro.
Cinzenta no céu, mas colorida nas bancadas de um estádio esquecido nos subúrbios da cidade ex-líbris do operariado nos anos 70. Eram os tempos áureos da CUF fábrica e da CUF clube.

Sai uma entremeada!!

O clube mudou o nome para Desportivo Fabril, mas felizmente o velho estádio Alfredo da Silva permanece de pé. É belo, o estádio. Charme decadente a fazer lembrar imagens de Havana. E não faltaram as pujantes baforadas de fumo de robustos cubanos, devorados pelo Presidente do Sporting. Perdão, da Sporting SAD.
Privilégios e sortilégios de um jogo assistido em camarote.

Ao meu lado, uma menina de oito, nove anos, loirinha, de olhos claros, apontava o que considerava de realce, na sua peculiar interpretação. Tinha reservado um pedacinho de espaço num pedacinho de papel, para apontar os golos. Rabiscou aí seis gatafunhos.
Passou mais de hora e meia a fazer-me perguntas sobre o jogo, sobre as pessoas, sobre tudo.
- E para que servem os bombeiros? - perguntou-me.
- É para levarem os jogadores que se aleijam na maca. - respondi.
- Ah...
A menina era do Sporting como a maioria das pessoas que foram ver o jogo. Saíram de barriga cheia. Com os golos e com os "comes e bebes".

Saiem duas bifanas!!

Acho que o que ainda faz as pessoas irem ao estádio, são os "comes e bebes". As imperiais em copos de plástico. As bifanas. As entremeadas. E claro, a piéce de resistance que dá pelo nome de "couratos". Ainda estou a trincar um resto de courato que está a dar luta desde Sábado. Peço desculpa aos vizinhos pelos distúrbios causados nas últimas madrugadas.

Neste mundo do "amarfalhanço como se não houvesse amanhã" é imprescindível adaptar-se às circunstâncias. Livre-se de pedir um copo de leite. Será mais recordado que o golo do Maradona no Mundial de 86.
Um simples pedido de uma sandes de carne gordurosa e de um copo a entornar cerveja mal tirada, requer todo um léxico próprio, criado há muito tempo por mentes prodigiosas. E bêbedas.
Tente assim:
- Chefe! Oriente-me aí uma imperial e uma sandes de couratos para matar o bicho!
- É para já, chefe!
E a partir daqui é "chefe para aqui" e "chefe para acolá".

Com o estômago revestido a gorduras saturadas e o colesterol a subir a pique como aquele francês maluco que escalou a Torre Vasco da Gama, segue-se em magotes para o estádio. Antes de entrar, é-se revistado, ou melhor, apalpado pelos stewards, vulgo "seguranças". O George Michael adoraria esta parte.

Chefe! Olhe aqui o seu coirato, chefe!

Lá dentro, 18 mil pessoas. Quatro claques identificadas. Torcida Verde, Directivo XXI, Juve Leo e uma pequena mancha de sangue azul chamada... sangue azul.
Pode esquecer-se do cachecol e da bandeira em casa, mas jamais esqueça o vocabulário típico do "pontapé na bola".

Há um que manda o árbitro para um sítio que rima com "Carvalho" e que diz respeito ao orgão sexual masculino. Outro que o aconselha a ir ter com a senhora sua mãe muito dada ao convívio. Outro que sugere ele vá levar na parte do corpo que usa para se sentar. E por aí fora.

Mas não houve margem para polémicas à conta da arbitragem. As contas foram outras.
Um, dois, três, quatro, cinco, seis. Seis golos do meu Sporting ao meu Pinhalnovense.
Acabou a bela festa do futebol caramelo.
Para o ano há mais.

Sai mais uma entremeada!

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