23 março 2009

Diário do JP - Vilões de rir e chorar


Segunda, 16
A temperatura está perto dos 30 graus nesta última semana de Inverno.
Já há gente na praia e nas esplanadas.
Morar num país tropical sem mulatas nem Angra dos Reis é um tanto ou quanto patético.
Uma espécie de Las Vegas sem casinos.

Terça, 17
O inebriante "Slumdog Milionaire" foi dizimado pela "crítica especializada" cá do burgo.
Não sei quem são esses panascas das salas escuras mas parece-me que o cinema não tem que ser necessariamente um buffet de intrincados pressupostos existencialistas, uma tertúlia em torno de Jean-Paul Sartre.

Sempre entendi o cinema como uma viagem ao mundo da fantasia sem perder de vista a interpretação da realidade e o "Quem Quer Ser Bilionário" tem tudo isso.
Os Óscares premiaram o que os críticos, sobretudo os de cá, desprezaram.
Definitivamente, não são deste filme.

Quarta, 18
"Os Três Ursos" voltaram a percorrer as ruas do Pinhal Novo fazendo ecoar conversas sem nexo.
O non-sense foi sempre bandeira da pandilha e assim será até ao fim dos tempos.
Tive que abdicar de parte da noite porque, uma vez mais, havia que acordar cedo no dia seguinte.
E assim se leva a vida fazendo figura de urso.

Quinta, 19
O "Comércio Justo", criado em 1960, é um movimento social e uma modalidade de comércio internacional que preconiza o estabelecimento de preços justos, bem como de padrões sociais e ambientais equilibrados, nas cadeias produtivas.
É o comércio onde o produtor, essencialmente ligado a países em vias de desenvolvimento, recebe remuneração justa por seu trabalho, eliminando ao máximo os intermediários.

Um pequeno cabaz deste tipo de produtos foi, este ano, a prenda de aniversário da minha cunhada.
Porque há que ser minimamente criativo na hora de ofertar aniversariantes e conciencializar quem passa a vida nos shoppings da moda.

Sexta, 20
Sei que o prazer que sinto em acompanhar a mulher que amo numa sessão de compras é, ainda assim, uma ínfima parte do que ela sente nesses devaneios consumistas, independentemente de de estar ou não comigo, mas estou longe de sentir ciúmes das montras.

Sábado, 21
A festa de aniversário da minha cunhada decorreu num ninho de águias apreensivas com o desenrolar dos acontecimentos na final da Taça da Liga, em especial desde que o Sporting se colocou em vantagem.
Depois apareceu Lucílio e a sua incompetente arte de apitar por intuição.
O erro foi assumido pelo próprio no dia seguinte na SIC, em mais um assomo de vaidade dissimulada que não devolve um troféu injustamente conquistado pelo Benfica.

Em 2002 partilhei uma viagem de avião S. Miguel-Lisboa com Lucílio Baptista.
Pareceu-me demasiado seguro de si, a roçar a arrogância e a sobranceria, até no contacto com o pessoal de voo.
Nesse momento tive dúvidas, mas a televisão, ao longo dos anos, confirmou as primeiras impressões.
É por estas e por outras que é urgente a utilização de meios tecnológicos no futebol.

Domingo, 22
O filme domingueiro no canal 1 da RTP cumpria os requisitos mínimos para matar o tempo.
"Os Salteadores da Cidade Perdida" rolava no ecran sem grandes percalços para os heróis mas restava um vilão, o traidor Giopatti, um membro do clero alienado pela possibilidade de participar no dia do Juízo Final.
O vilão chega a uma sala, perto de alcançar os heróis.

E o que faz Giopatti neste momento de tensão para o teleespectador?
Arranja uma metralhadora?
Detona uma bomba?
Qual quê! Giopatti dirige-se a uma bancada e desata a comer desalmadamente duas fatias de pão de forma branco, que a fomeca já era mais que muita!!
Ó pôrra! O futuro da humanidade pode esperar quando se está com uma larica de dar murros no estômago!

O momento, de todo inesperado, ainda foi mais hilariante porque, entretanto, eu estava a fazer a minha voz mais sinistra aos ouvidos da minha princesa, só para acrescentar um pouco mais de emoção à película, mas - e agora façam voz sinistra - que resultou nisto:
"Gi-o-pa-tti!!...
...ann...
...entretanto com fome."
Dois minutos inteirinhos de gargalhada.

4 comentários:

Mariazita disse...

Olá, João Paulo
Estive aqui dando uma olhada nestes posts, que ainda não tinha visto.
Descobri uma coisa muito engraçada - tu trabalhas na rádio...Não fazia a mínima ideia.
Eu também trabalhei na rádio, e confesso que foi das coisas que mais gostei de fazer, a nível profissional, até hoje.
É, apesar de tudo, apaixonante!
Eu tenho muitas saudades...

Gostei dos teus posts, mas demorei aqui um bom bocado. Preciso organizar-me para não fazer ausências tão prolongadas...

Uma boa semana.

Um abraço
Mariazita

Anónimo disse...

Olá grande urso!
Parece que a passeata deu em verborreia, não?!
Dar com a lingua nos dentes é severamente punido na irmandade do bramar. E já devias saber disso.
Não é à toa que és o maior dos três.
Para a próxima já não comes a branca-de-neve... mas isso é outra história.

E caso não saibas; se o urso brama então o boi bufa.

Grande bufa... quero dizer, bramido para ti, seu grande urso.

João Paulo Cardoso disse...

Mariazita:

Se uma ausência prolongada proporciona uma estadia demorada, convém não errar na estrada.

Como continuas a vir cá ter, está tudo bem.

Beijos.

João Paulo Cardoso disse...

Urso 1:

Jamais deveria ter vertido o doce mel de noites obscuras na fogueira de vaidades e sei que essa é uma falha de "bramar" aos céus.

Mas sinto o apelo do circo e dos aplausos cada vez que pedalo o monociclo, embora não seja indiferente às delícias dos bosques.

Indagarei sobre as virtudes de acções mais equilibradas quando comer a trapezista.

Um abraço do Urso 2.

(a nova hierarquia dos Três Ursos foi estabelecida tendo apenas como referência a idade dos ursídeos. Sendo assim, sou o urso do meio, onde dizem estar a virtude.)