06 março 2007

Postais Caramelos: Da Minha Varanda Vejo o Mundo

Post nº 59

Vivo no mesmo sítio há quase 35 anos e, confesso, o horizonte deixou de ser familiar para tornar-se monótono, enfadonho, entediante. Guardarei sempre este lugar na memória e no coração, mas gostaria de rasgar este horizonte e passar ao nível seguinte. Isso acabará por acontecer.

PRAÇA DA INDEPENDÊNCIA - SÉCULO XX

Recordo-me de um imenso largo que dividia alguns prédios no lado norte de Pinhal Novo, da linha férrea que há 100 anos divide a capital caramela geograficamente ao meio. Só geograficamente. Em tudo o mais, os caramelos continuam unidos, principalmente quando são dos que se trincam e ficam agarrados aos dentes...
A linha férrea é, de resto, reponsável por uma das mais emblemáticas frases nativas: "Já está crescida, a gaiata. Já passa a linha sozinha."

Mais tarde foram plantadas algumas filas de árvores, mas bem junto ao caminho de ferro, eram os velhos eucaliptos que dominavam. Tenho saudades de ir encher os pulmões junto deles. Ou de jogar à bola com os outros miúdos do bairro, aproveitando a sombra refrescante dos finais de tarde de verões que não voltam. Aos 11, 12 anos, em tempo de Ciclo Prepararatório, era uma nulidade na arte do pontapé na bola. Quando comecei a fintar e a marcar golos como os melhores da rua, já tinha 17 anos. Muito tarde para começar a jogar no clube da terra. Mas durante um, ou dois anos eu fui muito bom, o que dava para chegar a casa suado, mas feliz.

A pacatez desses tempos era quebrada ao segundo domingo de cada mês, com a realização do mercado mensal. Eu detestava o mercado mesmo à minha porta. Quando ia ao cinema ou a qualquer outro lugar, num domingo à tarde, era certo que tinha de sair meia hora antes. E não podia cruzar o largo, tinha que seguir em passo de procissão atrás de um magote de gente com sacos de plástico na mão. E quando falo no mercado à minha porta, posso até acrescentar, sem exagerar, que vendedores havia que guardavam alguns pacotes com sabe-se lá o quê, nas escadas do meu prédio. E, se os convidassemos, alguns comeriam lá em casa.
Também não tenho saudade de pontapear caixas vazias de sapatos às segundas de manhã, quando seguia para a estação para apanhar o comboio das seis e pouco, ainda noite, isto já em tempo de universidade. Não é bonito estar numa carruagem cheia de gente a tentar dormir, e estar a tirar caixas de cartão que se enfiaram pelas pernas acima...

Em Maio, o mercado partilhava o largo com os carrocéis e carrinhos de choque. Lembro-me de, numa noite de Maio invulgarmente quente, eu, o meu irmão e os meus pais, bem apertados, termos jantado na varanda, apreciando aquela espécie de Feira Popular caramela e o frango com batatas fritas que ia desaparecendo rapidamente do prato. Nunca mais houve jantares na varanda. Duvido que conseguíssemos caber ali 20 anos e 20 quilos depois.
Finalmente o mercado mudou de localização e a Praça da Independência mudou, indiscutivelmente para melhor.

foto de Adelino Chapa, site da Junta de Freguesia de Pinhal Novo

PRAÇA DA INDEPENDÊNCIA - HOJE

A nova Praça da Independência foi inaugurada com pouca pompa e muita circunstância, salvo erro em 2002, ou 2003. O saudosismo fica diluído na evidência de que tudo mudou, para melhor. Já posso estacionar o carro num parque de estacionamento decente. Há espelhos de água, zonas relvadas, novas árvores que rapidamente cresceram e uma pequena, mas muito prazeirosa e funcional Biblioteca.

Há gente que ri e se passeia, putos que correm, bolas que saltam, cães que alçam as pernas, reformados que arrastam as suas e tudo ao mesmo tempo, em tempo de Festas Populares. Afinal de contas, os caramelos não perdem uma festa.

Mas para que a Praça fosse perfeita, perfeita como a Super Bock sem álcool, só falta tirar dali aquilo a que eu chamo de "4 M's", já que há uma loja "3 M's" mais abaixo. Pois o "4 M's" é a "Merda do Mamarracho do Mercado Municipal" que está ali a estragar a paisagem.
É uma espécie de Alvalade XXI igualmente policromático, com a equipa da casa a equipar igualmente de verde, munida, neste caso, com vassouras, ancinhos e caixotes de lixo. Nada contra eles. Tudo contra o Mamarracho. Mísseis Scud do Irão ou petizes de fisgas em riste, não importa. Mandem-me aquilo abaixo "ó faxavôr".

1 comentário:

Anónimo disse...

o que eu estava procurando, obrigado