O Prepúcio de Natal

"Sabe o que é um prepúcio?"
"Ah, eu não uso disso... isso é coisa de drogados!"
Inquérito de rua a um gajo do povo, ontem à noite no "Zé Carlos" do Gato Fedorento.

Quando a pergunta se afigura mais complicada, o português não dá parte de fraco, respira fundo e discorre uma série de parvoíces sem nexo, pejada de pontapés na gramática, o indispensável picante do palavrão na língua de Camões e um resvalar para temas tão díspares do que se perguntou que nem com GPS o entrevistado reencontra o raciocínio.

Felizmente, à beira do Natal, ninguém confundiu "prepúcio" e "presépio".

"Ah, e tal, eu já fui buscar musgo para pôr no meu prepúcio", era esquisito de ouvir.

Ou... "já enfeitei o prepúcio com luzinhas de Natal".

Ou ainda... "o Menino Jesus ocupa uma posição de destaque no meu prepúcio".

Ou até... "os gajos da Câmara, este ano, esmeraram-se no prepúcio".

E mais a célebre... "todos os anos ponho mais uma ovelha no meu prepúcio".

Bizarro, gajos do povo.
Bizarro.

Pôr as bolas na árvore e as ovelhas no prepúcio é pouco cristão.
Ou gritar por aí que adora ir às rabanadas.

Sejamos cristãos neste Natal.
Por uma vez, deixemos o prepúcio no seu lugar, no escurinho, sem luzes, ovelhas e aquela espécie de Trio Odemira a camelo com ofertas para o menino.

Está frio e é do incenso comum, que mesmo o que é de ouro, no Natal mirra.