10 dezembro 2008

Crianças Terroristas


Não tenho filhos, não porque não goste de crianças, mas porque tenho medo delas.

Sei que a paternidade faria de mim um homem melhor, embora com menos recursos económicos e mais cabelos brancos, mas todo o resto da experiência aterroriza-me.

É comum encontrar nos blogues - no meio da parvalheira geral e míngua de fotos de mamalhudas - palavras meladas dedicadas a filhos ou animais de estimação.
Normalmente, a prosa para um e outro caso é semelhante, o que nem sequer comento.

O que trago aqui à liça - seja lá o que isso for - é a estranha metamorfose que ocorre nos primeiros meses de vida da criatura que vem a este mundo para ser mais um aficionado do Noddy e 15 anos mais tarde da revista Playboy.

Ainda no ventre materno há quem os chame de "feijãozinho", depois são os bebés rosadinhos que dão vontade de trincar e, meses depois, são "os terroristas lá de casa".

"Este é o meu reguila", "é terrível", "um diabo em forma de gente", "é um maroto" ou "é um terrorista" são expressões utilizadas no círculo familiar ou entre amigos, ditas com orgulho e resignação.

Principalmente com orgulho.

Um puto - e tenho estado a falar mais em relação a crianças com pilinha - tem mesmo que ser irrequieto como uma galinha com o rabo a arder, e mauzinho como um hooligan da Juve Leo, caso contrário passa por ser, desde logo, um paneleirito.

"O meu filho gosta muito de ver a RTP2" não é uma frase proferida com orgulho numa tarde de compras no Corte Inglés, muito menos "o nosso menino quer ir para a catequese" ou "o meu Lourenço gosta do brilho dos castiçais" .

Ter um pequeno e terrível, daqueles que o Ministério da Agricultura poderia incluir na lista de proibições junto com Rottweilers, Pit Bulls e Chihuahuas com diarreia, é o que é exigido pela sociedade em geral e pelos casapianos em particular.

Mas uma das expressões mais estranhas continua a ser "o meu rebento".

"Este é o meu rebento" remete para aprofundada reflexão que nem o Professor Marcelo sintetizaria em poucas linhas.

Ainda assim, penso que há duas perspectivas dominantes:
Uma mais poética e fofinha, relacionada com a jardinagem; outra mais crua e terrorista.

E mais uma vez prevalece a vertente mais pérfida.

Basta passar uma tarde na Palestina e ouvir o orgulho daquelas mães:

"Lá vai o meu rebento apanhar o autocarro!"

"BUMMM!!!!"

"Pronto! Já o apanhou!"

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