26 abril 2007

Como fazer uma "Revulussão" em 10 lições

Post nº 90

Está farto dos seus vizinhos? Tem raiva aos tipos que o incomodam para distribuir publicidade? Enerva-se até com os velhinhos no parque? Aqui fica um manual para os novos revolucionários, 33 anos depois do 25 de Abril.

1. Arranje um Conflito
Para fazer uma revolução é preciso estar mesmo chateado com alguma coisa. Não espere que seja despedido ou que o seu carro seja riscado. Seja picuinhas. Por exemplo: aqueles tipos que passam a vida a tocar à sua campainha para entregar publicidade. Decida-se a acabar com essa raça!

2. Conquiste Aliados
Sozinho não vai a lado nenhum. Junte-se a três ou quatro vizinhos, reúna antigos colegas do liceu, a antiga equipa dos juvenis do clube lá do bairro, ou aqueles dois casais de chatos que em 1987 iam acampar consigo na Caparica.

3. Fale em Código
À boa maneira dos pioneiros das revoluções abrilianas em Portugal, convém tratar os parceiros de revolta por “camarada”, “comandante”, “capitão” ou encontrar uma designação pomposa para todo o grupo como “FP-31 de Abril”, ou “Gente Raivosa 2007”. Diga “pá” a torto e a direito, e abuse dos palavrões, como... “mariquinhas” ou “cócó”.

4. Combine Senhas
Escolha uma palavra, ou melhor, uma canção que sirva de mote para a revolução. Normalmente, usa-se um sucesso de um cantor popular. Foi assim com Paulo de Carvalho e com “E Depois do Adeus”. Agora poderá ser com “Vagabundo por Amor”, de Tony Carreira. Peça para tocar na Orbital ou na Antena 3. Quando isso acontecer, toda a gente adivinhará que vem aí uma revolução.

5. Adquira Armas de Fogo
Em 1974, mal se ouviram tiros e, desta vez, só por causa dos velhinhos no parque, dos vizinhos, ou dos tipos da publicidade, também não vale a pena gastar muito dinheiro a comprar armas. Assim, arme-se dos pés à cabeça com fisgas, balões de água, pega-monstros ou garfos afiados. Assanhe o caniche ou vá buscar a avó que lança perdigotos. Ui! Que medo!

6. Opte por um Look Revolucionário
Lá porque vai sair à rua todo raivoso, não quer dizer que saia com uns trapos velhos e sebosos. Os camuflados já eram. Vista-se de Pepe Jeans, Diesel, Salsa ou até de Armani e Valentino. Revolte-se com estilo. Não esqueça de combinar bem os acessórios. Use um bom perfume e faça madeixas no cabelo.

7. Vá à Florista
A outra foi a “Revolução dos Cravos”, esta será o que você quiser. Saiba que as rosas estão cada vez mais caras, as tulipas ainda pior, as orquídeas idem, portanto, opte por malmequeres ou ponha raminhos de hortelã debaixo dos braços, ou outra coisa qualquer. Tem é que sair à rua com flores, que é para dar aquele ar de revolução amaricada. Ensaie uns gritinhos de menina e está quase pronto a sair para a guerra.

8. Utilize Veículos Potentes
Faça um telefonema para uma empresa de aluguer de automóveis e veja se eles têm para lá jipes e tanques do tempo da Maria Cachucha. Como não devem ter, opte por Três Minis, 5 Carochas e uma Renault 4, mais uma Ford Transit de caixa aberta. Recorde-se que a vida está difícil e, por isso, esta tem de ser uma revolução barata.

9. Confirme Bases de Apoio
Através dos ‘walkie-talkies’ do vosso tio Rafael, irmão do bisavô que esteve na 1ª Guerra, confirme que está tudo a postos nos quartéis de apoio. Sirva-se dos já existentes, como o dos Bombeiros ou o da GNR. Peça-lhes, entretanto, para virar as entremeadas e os couratos que já cheiram ao longe, pergunte se há bejecas para todos e cá vai disto!

10. Saia à Rua
E pronto! Muito raivoso, lado a lado com os antigos colegas dos juvenis e os Ferreira Pereira que estiveram na Caparica, com um estandarte que exibe escrito a marcador “Revulussão 2006”, gritando “Có-có!”, “Có-có!”, vestido à Joaquim Monchique, armado com fisgas, pega-monstros, a avó dos perdigotos e um caniche selvagem, cabelos enfeitados com dois raminhos de salsa e sete dentes de alho, lá vai você, o revolucionário dos novos tempos, de cabelos ao vento num Carocha descapotável, ao som de Tony Carreira.

Pelo caminho, emborcam-se, não umas minis, mas sim umas Abadias, umas Bohemias, umas Tango ou umas Green, porque também as cervejas são dos novos tempos. O resultado da “Revulussão” é que é o mesmo de sempre, seja 1974 ou 2007. Pelo caminho, esquecem-se os ideais e acaba tudo bêbedo a comer entremeadas, à espera que a raiva passe.



Nota da Administração do blog:

Este texto foi recuperado de uma crónica humorística escrita para o site dos BV Pinhal Novo no ano passado. Foi uma forma colorida de tornear as sombras ou simplesmente de fintar a falta de criatividade (e vontade) de escrever coisas novas.


17 comentários:

Miosótis disse...

Eh...Eh...
Sempre mordaz...e auto-crítico também!
Mas sempre me faz sorrir!
Hoje desatei às gargalhadas....
Rir faz bem...exercita os músculos faceais!
Um excelente fim de semana, pleno de bom humor.

João Paulo Cardoso disse...

miosotis:

Ainda bem que a fiz rir.
Esse era (Bolas! E ainda é!!) um dos fundamentos que levaram à criação do "Eldorado".

Se tudo correr bem, voltarei para escrever mais coisas assim.

Bom fim de semana para si também.

Maria Feliz disse...

João Paulo,
Como sempre um bom texto (recuperado ou não, não interessa).
Bom fim de semana e quando eu voltar de férias quero ler mais!
Beijocas

N.M disse...

Sim senhor gostei!!
Deixas-te aqui uns (bons)principios para se fazer uma grande revolução!!!!

Anónimo disse...

Um bom texto para um tema assim assim. Ja tinha lido mas gostei de reler.

Reaproveito o abuso de cavaquear com os comentadores: Ola NM! Ha quantos anos! Manda-me o teu MSN!
Nao me apetece expor aqui no blog. O JP diz-te quem sou e da-te o meu MSN, se fizer o favor. (Cheers JP)

NullFame

João Paulo Cardoso disse...

Flora:
Gosto de recuperar textos enquanto recupero.

E como vê também gosto de brincar com as palavras.
(tinha lido isto no seu blog, não sei onde...)

Bom restinho de férias e bom regresso a casa.

João Paulo Cardoso disse...

n.m:

As melhores revoluções são feitas em Portugal:
Pacatamente, sem grandes confusões.

Se fosse no Algarve ainda melhor!

João Paulo Cardoso disse...

Null Fame:


Não sei se guardei o teu MSN, porque eu não uso disso, mas vou procurar no registo das nossas conversas on line.

E depois, faço o quê?
Envio para o blog do n.m.?

Estás a conseguir que a internet seja cada vez mais uma aldeia global...

E a gente sabe que nas aldeias todos se conhecem, mas não exageremos!!

Qualquer dia tenho aqui um comentário da minha mãe, a pedir que eu leve o cão à rua...

Bom fim de semana!

Há para aí um Labour Day para a semana, ou estou a fazer confusão?

Anónimo disse...

Sim, envia pra ele sff. Ou se quiseres, devolve-me o endereco do blog dele. Nao, infelizmente nao e feriado no 1 de Maio. Mas ha um feriado a 7 de Maio, que nao sei do que e. E feriado e isso e tudo o que interessa :)

Bom fim de semana.

NullFame

Maria Feliz disse...

"Bom restinho de férias"???? Ainda tenho mais de uma semana... Eu sei que vai sentir a minha falta, mas não me encurte as férias, please;)

Anónimo disse...

a minha vida ja é uma revolução para que mais!!!

Anónimo disse...

E so pra constituir um record no numero de comments a um post do JP, aqui vai o numero 12!

NullFame

João Paulo Cardoso disse...

Flora:
Então mais uma semaninha de férias!
Aproveita bem porque os regressos ao trabalho são traumáticos...

Para compensar isso, passei a tratar-te definitivamente por "tu".

Beijos.

João Paulo Cardoso disse...

anónimo:

Não sei se é novo cá nesta tasca, mas denoto alguma revolta nas suas palavras.
Ou seja... o amigo é um camarada descontente, como eu!!

Conselhos: Não se enfrasque em comprimidos, não se injecte com drogas, não organize massacres no liceu lá da terra e não gaste todo o dinheiro em putas e no jogo.

Bem... mas fora isto, não resta mais nada, pois não?

João Paulo Cardoso disse...

Null Fame:

Estava a estranhar conheceres o n.m. de Faro, mas como o mundo é pequeno e anda às voltas...

Agora sim, recorde de comentários.
15.

O recorde estava em 12.
"Cá está ele! O Coelho da Páscoa", post nº 74, de 04 Abril 2007.

Mad disse...

Parabéns pelo seu blog. É um dos mais interessantes que encontrei até agora. Já para não falar neste post específico, que adorei.

Continue a escrever assim e garanto que volto sempre que puder.

João Paulo Cardoso disse...

Se acaso neste momento começar a babar-me tal se deve única e exclusivamente a uma overdose de vaidade por tamanhos encómios.

Nada de mais grave.
Acho.
Espero.


As últimas seis palavras foram ditadas pelo meu lado hipocondríaco...

Volte sempre, Madalena.