07 agosto 2007

Regresso ao Passado - Velha Infância, parte 1

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Para aqueles de vós que são tão agarrados ao computador como um mexilhão é a uma rocha, e que levam o portátil para todo o lado, seja a praia, o campo, a sacristia, ou uma casa de alterne, eis um textozito leve como uma dessas porcarias das árvores, que nos entram pelo nariz e nos fazem fungar tal qual uma top model dessas anorécticas com cabeças de vento.


Pois bem, a ideia era falar neste "Regresso ao Passado" da minha infância, mas parece que isso representa mais do que um regresso ao passado. Seria mais correcto escrever isto a meias com um paleontólogo, porque seria capaz de jurar que ainda cheguei a conhecer dois ou três dinossauros. Ai não, espera... isso eram os vizinhos que moravam no 1º andar.


As memórias de infância diluem-se mais depressa que meia dúzia de moedas numa slot machine e temo que o Alzheimer esteja já a minar-me o corpo. Por onde o bicho do esquecimento entrou, não faço ideia, mas espero que esteja longe do meu melhor hemisfério cerebral que é o do lado esquerdo, correpondente à linguagem.


Lembro-me que era uma criança extraordinariamente calma.
Ou vá lá, estática.
Mortiça, pronto.

Consta que podiam regar-me com gasolina e oferecer-me uma tocha que não acontecia nada.

Passava os dias sentado, a brincar com molas de roupa, não me perguntem porquê. Sei que não se cumpriu a profecia de vir a ser dono de uma lavandaria, embora tenha enorme capacidade para sujar roupa.
Também passava o dia a escrevinhar livros, documentos, paredes e testas de familiares.
E gastava também muito tempo a afagar carinhosamente os meus genitais, mas não quero aprofundar esta questão.


Entre as tropelias que fizeram história, a da "Meia Dúzia" talvez seja a mais clássica.

Conta-se em três tempos.


1. Quiçá a pensar na elaboração de mais um dos seus doces conventuais, "vovó Catarina" comprou farinha, açúcar e meia dúzia de ovos. Como o saco se tornara pesado para a sua espinal medula, colocou o saco com os víveres em cima da mesa e foi à sua vida.
Então, assegurando-me antes ao espelho que não era felino e que por isso a curiosidade não me matava, resolvi espreitar para dentro do tal saco, par ver se havia guloseimas.
E tanto mexi que parti um dos ovos.
Pânico! Drama! Horror!
Deu-se então um choque entre neurónios em contra-mão, que comprovou, pela primeira vez, o grave caso de esquizofrenia que me afecta desde sempre.

2. Como disfarçar um ovo partido? Com cola? Comendo-o mesmo cru? Fingindo ser uma galinha desvairada em busca dos progenitores perdidos?
Nannnnn....
Agarrando em toda a caixa e despejando os cinco ovos inteiros e o outro partido no quintal da senhoria, a D. Olívia, que assistiu em vida ao milagre da chuva de ovos moles, 300 e tal quilómetros a sul de Aveiro.
Desculpando em homem o puto de então, devo dizer que a teoria era a de fazer desaparecer todos os ovos, dando a impressão que não foram, de todo, comprados.
Só que esparramados entre dálias e margaridas e disputados por uma dezena de galináceos espalhafatosos, os ovos (ou o que restavam deles) chamaram mais a tenção que os últimos episódios de "Gabriela" que então paravam o país.

3. Descoberto o fraco embuste, uma assembleia de adultos teve lugar na cozinha da "vovó", encostando a oposição contra a parede. Sendo o único vereador representante da minha bancada, argumentava debilmente, inventando mil e uma mentiras de pernas mais curtas que as das galinhas que se ouviam ainda a cacarejar ruidosamente no piso térreo.
A história termina com o meu pequeno traseiro de então, bem vermelho, depois umas chineladas bem aplicadas.
E nesta altura ainda não existia o psiquiatra bonzinho da SIC para defender a criatividade de uma criança, adepta de ovos voadores...



NOTA

Com a publicação do díptico "Regresso ao Passado - Velha Infância", "O Eldorado" despede-se de todos os seus amigos, para umas merecidas férias longe dos computadores.
Promete-se para a 'rentrée' um revigorado 'refresh', com novas rubricas e, pretensiosamente, o mesmo humor de sempre.
Voltamos a 24 de Agosto com o especial nº 150 e as novidades para a estação Outono/Inverno.

P.S: Leia acima o post "Regresso ao Passado - Velha Infância, parte 2".

1 comentário:

N.M disse...

Sabem tão bem regressar ao passado e recordar velhos tempos de infância... as tuas histórias fizeram-me recordar a mim velhas historias de criança e também os tempos onde a minha mãe também ralhava comigo!!!lol