07 julho 2009

O Melhor de Sempre


O melhor de sempre chama-se Roger Federer.

Não é idolatrado em Madrid, não dá pontapés na bola nem na gramática, não engata uma mulher todos os dias e, apesar de ser cada vez mais consensualmente considerado, aos 27 anos, o melhor jogador de ténis de sempre, não se envaidece assim que abre as pestanas na alvorada de cada manhã menos mediática mas muito mais gloriosa.

Vivemos tempos esquisitos.
A Gripe A torna-se coisa séria, uma pandemia como nunca tinha visto; a crise só vai abrandar lá para 2010 e é estar a ser optimista; o desemprego afecta todas as famílias; há carências ao nível da saúde, justiça, educação; é ano de eleições, europeias, legislativas, autárquicas; há conflitos armados um pouco por todo o mundo.

Ainda assim, as televisões nacionais dedicaram, em média, a primeira meia hora dos principais telejornais à apresentação de CR9, como novo rei de Madrid.
No Real ou no Esperança de Lagos, Cristiano Ronaldo tem, aos 24 anos, tudo para vir a ser o melhor jogador de futebol nascido em Portugal, suplantando, finalmente Eusébio.

Não sei se vale os 94 milhões de euros que pagaram por ele, mas sei que não vale a overdose mediática que engole tudo o resto.
O mundo rende-se cada vez mais ao acessório.
Neste caso, o mundo rende-se também a quem abusa de acessórios, sejam pochetes ou brincos de diamantes.

Se é para endeusar desportistas, escolha-se Roger Federer.
Nunca houve jogador de ténis tão ganhador, tão refinado em todas as suas acções de jogo.
E digo mais:
Nunca um desportista se aproximara tanto da perfeição.

O tenista suíço faz juz aos relógios do seu país, sempre certinho, até fora dos courts de ténis, onde se apresenta afável, educado, reservado, humilde, antítese do espalhafato madeirense que tomou Madrid de assalto.

Sempre valorizei o que as figuras mediáticas fazem para lá das actividades que lhes granjearam fama e proveito.
Mas isso sou eu, que sou parvo.

De qualquer forma, para quem não está familiarizado com o ténis, ganhar 15 Grand Slams (Open da Austrália, Roland Garros, Wimbledon e Open dos Estados Unidos), equivale para aí a cinco Ligas dos Campeões, dois Campeonatos da Europa e outros tantos Campeonatos do Mundo.
O currículo de Cristiano Ronaldo (ou mesmo o seu ego) nunca será tão extenso.

4 comentários:

Sun Iou Miou disse...

E assim: cá temos o mundial de hóquei em patins a celebrar-se em Vigo e Pontevedra, com a selecção espanhola a tentar levar o título pela terceira vez consecutiva e pouco ou nada se ouve. E ainda me disseram alguma vez que é um desporto brutal, hehehe!

E já agora, nunca ouvi ao Federer, mas sim ao Nadal, e gostei de ouvi-lo falar também, como os pés na terra (se calhar, não é nesta terra).

Interessam é as palhaçadas e o que move dinheiro (para uns poucos) e pôr o pessoal do Primeiro Mundo em fila para se vacinar da gripe e luzir máscaras de design, enquanto malária e sida continuam a fazer estragos entre os que se não morressem disso morriam de fome.

Bicos

paulo cristo disse...

o eusebio nasceu em portugal?!

João Paulo Cardoso disse...

Sun Iou Miou:

Portugal já não vai lá nem de patins...

Beijos.

João Paulo Cardoso disse...

Paulo Cristo:

Eusébio nasceu em Moçambique, que até 1975, fez parte do Portugal Ultramarino.

Ass:
Marcello das Neves Alves Caetano, Presidente do Conselho de Ministros,
Lisboa, 1970.

Recebido no "Eldorado" por telegrama.

Arrepiante.

Ao pé disto, o fantasma de Michael Jackson em Neverland é um lençol ao vento.

Um abraço.