28 março 2008

Saudades

O Eldorado - Edição nº 219

Este não é um texto prenhe de humor.
Portanto, se é daqueles que só aqui vem para rir das parvoíces que escrevo, está a perder o seu tempo.
Tente numa próxima vez.

Nos últimos seis meses vivi uma realidade que na adolescência parecia uma dimensão mítica.
Horas, semanas, dias refastelado num sofá com os dois mais belos animais do mundo, isto no meu peculiar ranking de espécies animais susceptíveis de adulação.
Uma mulher e um gato.

Por muito patético que isto possa parecer ao sarcástico leitor que vinha aqui engrossar a turba dos que, comigo, zombavam de tudo e todos, sublinho uma vez mais que este não é um texto para rir; ainda assim, compreendo que esteja agora a rir à parva.
Vou esperar mais um pouco, então.
Pronto.

A verdade é que cada um de nós - enquanto intrincado ser humano à mercê de idiossincrasias transmitidas pelo código genético, pelo meio em que se envolve ou geradas pela própria personalidade - sentir-se-á feliz em determinados momentos que só farão sentido para o próprio.

Não adianta teorizar porque é que muitos precisam de momentos junto ao mar, a outros chegará um piquenique nas montanhas, outros ainda só se contentarão com pornografia e outros há que encontram refúgio na religião.
Há os que vivem para trabalhar, outros para a família, os que gostam de filosofia, atum desfiado, o pôr do sol em dias de inverno, as corridas de Fórmula 1 e até aqueles que deliram quando o balancete lá da empresa bate certo.
Eu sempre soube que seria feliz entre gatos e mulheres.

No final de Setembro do ano passado, a minha namorada levou um gatinho amarelo lá para casa e, sei-o agora, fui ainda mais feliz do que antes.
Melhor do que ela, se existir, não quero saber, amo-a como nunca amei outra.

Já ele, amarelinho listado, de focinho e patinhas rosadas e nos primeiros tempos de olhinho bem azul, entrou na minha vida de rompante e conquistou-me de imediato.
Não precisava de ter tantos predicados. Bastava ser ele, bastava ser gato.

Só que o Tico desapareceu terça-feira, a meio da manhã.

Fica a saudade, a dor, um vazio difícil de preencher porque ele enchia uma casa. Parecia estar em toda a parte e agora não o encontramos em lado nenhum.
Ficam também as marcas de alguns arranhões e mordidelas que, espero, demorem a desaparecer.

Ficam as memórias das correrias, tropelias, saltos incríveis, pequenas sestas ao nosso colo, a forma como adorava beber água das torneiras ou como brincava com uma pequena pratinha de bombom minutos a fio, enfiando-a debaixo dos móveis, esperando que um de nós a fosse buscar.
Bolas!! E esta angústia que não passa!! É só um gato!!

Mas não, não "é só um gato".
Era, para mim, um grande amigo e para ela um companheiro de todos os dias.
Sei que será pior quando partir alguém que nos seja bem próximo, mas quem ama animais percebe que este não é um texto ridículo.

Também não é uma despedida.
Ainda acredito que ele possa aparecer, o que seria um momento de intensa felicidade.
Mas esteja onde estiver, ande por onde andar, quero acreditar que ele estará bem, apto para sobreviver nesta vida de merda, apesar da tenrura dos seus sete meses de vida.

Até qualquer dia, Tico.




9 comentários:

Mad disse...

Tadinho. Vou torcer para que ele apareça. Bjs para ti.

Anónimo disse...

engrossar a turba, essa expressão é nova para mim.
quanto ao engrossar não sei... mas... turbado porquê?

rir dá saúde

Anónimo disse...

como te compreendo,já acabei com namoradas, só por não terem o devido carinho, para com a minha pequena EGAZ...
ele vai acabar por aparecer, foi só as gatas...
Amorim

Anónimo disse...

Passei ali pelo Pinhal Novo com o meu carro e...acho que pisei algo com a roda, naum sei o que era mas ficou um amarelo avermelhado no lodo de alcatrão.

Pah e se o tico se foi fica o teco, ha muita gente que vive so com um.

Ai meu gatinho, porra, isso é de gay. Homem que é Macho tem uma cobra.

João Paulo Cardoso disse...

mad:
O tempo passa... a esperança não morre.

Beijos.

João Paulo Cardoso disse...

Paulo Cristo:
Plenamente de acordo: "rir dá saúde". O Raul Solnado, por exemplo, tem quase 80 anos.

Um abraço.

João Paulo Cardoso disse...

Amorim:
Vamos esperar que apareça.

De qualquer forma, antes desaparecer para ir às gatas, do que para ir comprar tabaco...

Um abraço.

João Paulo Cardoso disse...

Anónimo:
O primeiro impulso foi para apagar o seu comentário.

No entanto resolvi deixá-lo aqui exposto em todo o esplendor da sua estupidez.

E já que gosta de metáforas, aproveito para lhe dizer que, apesar de se julgar macho com cobra e tudo, falta-lhe o Tico e o Teco (os tomates) para assinar o que escreve.

Maria Feliz disse...

JP,
Fiquei triste por ti, migo :-(
Espero que ele apareça!
Beijoca grande