11 dezembro 2007

"FAXINAS"

O Eldorado - Edição nº 191

Longe, muito longe dos fascínios imperiais de Goa, esta é a novela da vida real.
Passada na Madragoa, aqui está, em rigoroso exclusivo...

"FAXINAS"
Entre a esfregona e a vassoura, ela prefere os dois


Episódio 107
Margarida Rachid está compenetrada no seu trabalho, lavando a calçada frente à seguradora do primo da sua enteada Raisa Mirpurih. A sua vida é trabalhar de sol a sol e só à noite tem tempo de fritar umas chamuças para o seu Fahjur, o badalhoco do bairro que se tornou seu esposo no tempo em que a Manuela Moura Guedes ainda parecia uma pessoa.
Margarida Rachid ganha 350 euros a recibos verdes e detesta Sócrates a quem repetidamente chama "um chapati (pão indiano) sem sal".

Tudo o que ela quer por hoje, é acabar de lavar aquelas pedras colocadas geometricamente por um punhado de colonialistas calceteiros e ir para casa, até porque o Domestos já avermelhou os seus olhos e não tardarão a confundi-la com a Amy Winehouse...

E com tudo isto já são 2oh32m na Madragoa e, infelizmente para Margarida Rachid, um bando de fedelhos aproxima-se para patinhar a calçada...


- Olhá monhé!!! Monhé! Monhé!!


- "Qué frô? Qué frô?" Ah! Ah! Ah!


- Monhé, cheiras a chulé, não é? Ah! ah! Ah!


Margarida Rachid chora mas não é dos insultos, porque a eles já está habituada.
É do raio da lixívia que dá cabo da vista, mas não lhe tolda os movimentos.
Depressa patinha a calçada acabada de lavar e corre atrás dos gaiatos como se eles fossem pombos esfaimados a quem urge espantar...


- Rua, gaiatos de um cabrão! Vão chamar nomes à puta da vossa mãe!!
O primeiro que eu apanhar, leva com a esfregona pelo cu acima e garanto que não começo pelo cabo!!

Não é bonito, muito menos educado, concordo.
Mas esta é a realidade, bem longe dos fascínios imperiais de Goa e dos indianos que afinal são actores portugueses após várias sessões de solário.
Aqui as coisas são como são, sem glamour e com palavrão.

Porque, caso não tenham reparado, esta é

"Faxinas"
Entre a esfregona e a vassoura, ela prefere os dois

7 comentários:

Maria Feliz disse...

Ora, ora... O teu painel de comentadores foi de férias?
Toma lá um comentáriozinho para não ficares triste. E é Natal e tudo.

Pode não ser grande coisa, mas é o que se arranja e é de boa vondade!

Acho que terias mais sucesso a escrever novelas que os tipos que escrevem os Deixa-me Amar, Vingança, Ilha dos Amores e afins. Eu essas não vejo e as tuas via de certeza:-)

Beijocas

João Paulo Cardoso disse...

Flora:
Por acaso estava um tudo nada deprimido com a falta de comentários.

O texto até está engraçadito, não sei o que se passa.
Acho que passei de moda.

Quanto a novos posts, a falta deles também não ajuda, mas falta-me o tempo e tenho compras para fazer, como o Natal obriga.

Beijos.

Anónimo disse...

tambem gostei so que nao vinha aqui ha mt tempo

um abraço e temos q combinar aí um meeting um dia destes, incluindo o outro dos tres estarolas

João Paulo Cardoso disse...

Maria:
Trocar a leitura deste blog pelos estudos é a coisa mais sensata que li nos últimos tempos.

Beijos.

João Paulo Cardoso disse...

Paulo Cristo:
Agora que estavas a convalescer a todo o vapor, queres reunir "os três estarolas"?
Genial!!

Mais arriscado do que isso, só um passeio pela noite do Porto, gritando "Ó Pinto da Costa, vai levar no ..."

Um abraço.

ana v. disse...

Hilariante, como sempre! Já tinha saudades dos teus textos e quase que não vinha aqui ao Eldorado desde que a Manuela Moura Guedes se parecia com uma pessoa. Estupidez minha, claro.
Beijos
ana

ana v. disse...

E Bom Natal!!