
Jorge Armindo, um electricista da Carris a viver uma longa noite de insónia, desfolhava um picante exemplar da revista Gina, já os ponteiros do relógio marcavam quase cinco da manhã quando, depois de se babar a ver uma foto de um 69 junto a uma piscina, lhe deu uns calores e saltou para cima da Rosa, sua sétima esposa, também conhecida por "Rosa do Talho".
Que não, mas que pôrra, aquilo lá era hora de fazer o amor?
- Só se for uma sardinhada lá no terraço - negociou a Rosa, a viver todas as particularidades de uma gravidez tardia, porque já tinha algumas décadas em cima do couro.
O Jorge, marialva que sempre que podia se armava em carapau de corrida, não sabia correr o carapau na grelha, neste caso sardinha, da grossa, paga em dezenas de escudos ao quilo e foi ainda a pensar no 69 ginasticado da Gina, mais para mais os Jogos Olímpicos seriam daí a poucas semanas em Seul, que ele, de olhos em bico, ou ainda ensonado, lá deixou fugir umas labaredas para onde não devia.
Os Armazéns do Grandella, onde ele tinha cometido a loucura de comprar um chapéu de feltro todo janota no último Natal, já ardiam a bom arder quando a Rosa veio a correr largar a bomba, mas desta vez não era o seu velho problema com os gases, mas que o Chiado estava a arder, ouvira na TSF.
O Jorge Armindo, de costas para o incêndio virou-se para a marquise e gritou a plenos pulmões:
- Está lá a arder, ó grande vaca! Eu estou aqui e não vejo nada! Está é um calor do camandro!
Foi quando se voltou, cogitou um bocadinho porque lhe faltava sapiência, soltou um "oops!", correu para dentro, agarrou na Rosa do Talho, fez as malas e fugiu para uma cave na Arrentela, onde ainda hoje vive com a Rosa, os três filhos deficientes, o Bin Laden, sete cães, cinco gatos e um porquinho da Índia.
Mais tarde ainda houve quem apontasse o dedo aos adeptos do F.C. Porto em grande euforia porque pouco tempo antes tinham sido campeões nacionais, europeus e mundiais e que cantavam sempre que podiam, "Nós só queremos ver Lisboa a arder", mas desta vez, pelo menos desta vez, a culpa não foi de Pinto da Costa.
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Nota: Tinha 17 anos quando o Chiado ardeu. As imagens que vi nos telejornais da RTP deixaram-me abatido. Lisboa é bela e sedutora mas desconhecia-a assim fogosa, entregue ao destino, consumindo-se num orgasmo quente.
Morreram duas pessoas, duas mil perderam o emprego, muitas mais choraram naquela madrugada, mas Lisboa nua, amada e chorada, sem roupa e sem Grandella para vestidos de princesa, sacudiu as cinzas dos ombros e está hoje ainda mais bonita.
Vestido novo, de princesa, esvoaçante, continua bela e sedutora, seduzindo nativos e turistas lá em cima no Chiado, onde uma noite foi fogosa, entregue ao destino, consumindo-se num orgasmo quente.
4 comentários:
Li tudo a eito, de um só fôlego. Depois dos comentários ternurentos sobre os Açores, comecei a desconfiar... e confirmei agorinha mesmo com a Nota do incêndio do Chiado: afinal és um poeta. (mas continuas a fazer-me rir, não fiques triste...)
Beijo
ana v.:
Epa, um poeta não, que isso não me dá de comer!
Felizmente tenho uns comprimidos para tomar em caso de poetização excessiva.
Vou emborcar um frasco antes que deixe de tomar banho e compre bilhetes para a Festa do Avante!
..... oops!!
Pronto!
Já borraste a pintura toda,rapaz!
Pintor é que parece que não... poeta, talvez.
Beijos.
LOL ist explica mta coisa... a arrentela realmente e vez em quando tem assim um cheiro a queimado.
patrícia:
Cada vez que que cheirar a queimado na Arrentela já sabes: O Casal Armindo está a assar sardinhas:)
Beijos.
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