25 agosto 2008

O dia em que Lisboa ardeu

O incêndio do Chiado foi há 20 anos mas Jorge Armindo, que assava sardinhas num terraço de um prédio nas traseiras dos Armazéns Grandella, nunca foi encontrado.

Jorge Armindo, um electricista da Carris a viver uma longa noite de insónia, desfolhava um picante exemplar da revista Gina, já os ponteiros do relógio marcavam quase cinco da manhã quando, depois de se babar a ver uma foto de um 69 junto a uma piscina, lhe deu uns calores e saltou para cima da Rosa, sua sétima esposa, também conhecida por "Rosa do Talho".
Que não, mas que pôrra, aquilo lá era hora de fazer o amor?

- Só se for uma sardinhada lá no terraço - negociou a Rosa, a viver todas as particularidades de uma gravidez tardia, porque já tinha algumas décadas em cima do couro.

O Jorge, marialva que sempre que podia se armava em carapau de corrida, não sabia correr o carapau na grelha, neste caso sardinha, da grossa, paga em dezenas de escudos ao quilo e foi ainda a pensar no 69 ginasticado da Gina, mais para mais os Jogos Olímpicos seriam daí a poucas semanas em Seul, que ele, de olhos em bico, ou ainda ensonado, lá deixou fugir umas labaredas para onde não devia.

Os Armazéns do Grandella, onde ele tinha cometido a loucura de comprar um chapéu de feltro todo janota no último Natal, já ardiam a bom arder quando a Rosa veio a correr largar a bomba, mas desta vez não era o seu velho problema com os gases, mas que o Chiado estava a arder, ouvira na TSF.
O Jorge Armindo, de costas para o incêndio virou-se para a marquise e gritou a plenos pulmões:

- Está lá a arder, ó grande vaca! Eu estou aqui e não vejo nada! Está é um calor do camandro!

Foi quando se voltou, cogitou um bocadinho porque lhe faltava sapiência, soltou um "oops!", correu para dentro, agarrou na Rosa do Talho, fez as malas e fugiu para uma cave na Arrentela, onde ainda hoje vive com a Rosa, os três filhos deficientes, o Bin Laden, sete cães, cinco gatos e um porquinho da Índia.

Mais tarde ainda houve quem apontasse o dedo aos adeptos do F.C. Porto em grande euforia porque pouco tempo antes tinham sido campeões nacionais, europeus e mundiais e que cantavam sempre que podiam, "Nós só queremos ver Lisboa a arder", mas desta vez, pelo menos desta vez, a culpa não foi de Pinto da Costa.

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Nota: Tinha 17 anos quando o Chiado ardeu. As imagens que vi nos telejornais da RTP deixaram-me abatido. Lisboa é bela e sedutora mas desconhecia-a assim fogosa, entregue ao destino, consumindo-se num orgasmo quente.
Morreram duas pessoas, duas mil perderam o emprego, muitas mais choraram naquela madrugada, mas Lisboa nua, amada e chorada, sem roupa e sem Grandella para vestidos de princesa, sacudiu as cinzas dos ombros e está hoje ainda mais bonita.
Vestido novo, de princesa, esvoaçante, continua bela e sedutora, seduzindo nativos e turistas lá em cima no Chiado, onde uma noite foi fogosa, entregue ao destino, consumindo-se num orgasmo quente.

4 comentários:

ana v. disse...

Li tudo a eito, de um só fôlego. Depois dos comentários ternurentos sobre os Açores, comecei a desconfiar... e confirmei agorinha mesmo com a Nota do incêndio do Chiado: afinal és um poeta. (mas continuas a fazer-me rir, não fiques triste...)
Beijo

João Paulo Cardoso disse...

ana v.:

Epa, um poeta não, que isso não me dá de comer!

Felizmente tenho uns comprimidos para tomar em caso de poetização excessiva.
Vou emborcar um frasco antes que deixe de tomar banho e compre bilhetes para a Festa do Avante!

..... oops!!

Pronto!
Já borraste a pintura toda,rapaz!
Pintor é que parece que não... poeta, talvez.

Beijos.

Patrícia disse...

LOL ist explica mta coisa... a arrentela realmente e vez em quando tem assim um cheiro a queimado.

João Paulo Cardoso disse...

patrícia:
Cada vez que que cheirar a queimado na Arrentela já sabes: O Casal Armindo está a assar sardinhas:)

Beijos.