06 dezembro 2010

4 Anos de Eldorado

A data quase que me passava ao lado.
O meu "Eldorado" faz quatro anos, está naquela idade de aprender a conviver com os outros meninos, sem lhes espetar um dedo nos olhos.

Para brindar a esta data de aniversário, e como já foi demais aquela dispendiosa orgia com chefes de estado - Cimeira da Nato, parece -, optei por reunir aqui, de forma mais contida, quase a merecer um louvor de Teixeira dos Santos, quatro dos melhores momentos destes quatro anos, um por cada 365 dias eldoradenhos.

Mas como estamos na época em que o velho das barbas dá azo à sua dissimulada pedofilia, sentando criancinhas ao colo, em troca de histórias mal contadas, que nem em mega-julgamentos se tiram a limpo, optei por uma recolha de quatro textos natalícios, que ilustram os quatro últimos Natais do vosso JP.

Enjoy.

Natal 2006 - 26 Dezembro 2006

Tradições de Natal.
Cada família tem a sua.
Diplomaticamente procurei corresponder e moldar-me a cada uma delas.
Às famílias e às tradições.
Mas ainda vivo realidades trocadas.

Na noite de consoada os meus pais foram à Missa do Galo, eu fiquei com o cão.
Na noite do dia 25 eram sete pessoas à mesa (dentro do que estou habituado já é qualquer coisa...) e grande parte das prendas só foram trocadas nessa altura.

Na tarde do dia 25, cumpri outra das estranhas tradições pinhalnovenses: Ronda pelo jardim e Praça da Independência para mostrar a roupa nova, ver os putos com os brinquedos novos e avaliar quem está a engordar mais depressa com sonhos e filhozes.

Desta vez, a ronda foi feita com a namorada, o primo e os tios dela.
Ah, e mais o Sr. Joaquim, um duende doente pelo Benfica.

Paragem na casa da melhor cozinheira do país e depois regresso a casa dos pais com uma tartaruguinha debaixo do braço.

O estômago dividiu-se pelo Bacalhau com Natas e o Borrego Assado com Batatas Fritas, mais pantagruélica parada de doces.
Filhozes, Azevias, Bolo de Bolacha, Rabanadas, Serradura Real, Arroz Doce e, pasme-se, Salame de Chocolate e Pastéis de Nata.

Às vezes envergonha-me a exuberância destes dias.
Se o pensamento resolve, mesmo que por instantes, esgueirar-se pela fresta das janelas trocando o calor do lar pelo frio da noite, guiando-se supersonicamente a outras realidades, bem mais devagar regressa turvo e impotente.
Fica escrito: Eu lembro-me.

Mas deste Natal não esqueço ter na mesa a minha princesa, lado a lado com todos os outros que também amo. E um doce cafuné na nuca, feito ainda à mesa, que ultrapassa as mais delirantes fantasias sexuais.

Às vezes quase vislumbro o Eldorado, mesmo que por instantes, antes do pensamento voltar a esgueirar-se pela fresta das janelas.

Foi um Natal reconfortante. Não encontro palavra melhor. Só que os dias riscam-se no calendário e o tempo não pára. Foi ainda ontem. Parece que foi 20 anos atrás. Fica a memória dos afectos.

Um Gordo Natal - 26 Dezembro 2007

Foi algo extremamente opíparo.
Orgásmico.
Como um lampejo do antigo império romano, nos seus dias decadentes, rebolando faustosa e alegremente para o abismo.

À mesa, - nas mesas, melhor dizendo - Borrego, Peru, Porco e Vaca.
Mas para equilibrar a carnificina, Soufflé de Queijo e Espinafres, Tofu e, claro, o Bacalhau em pelo menos quatro modalidades olímpicas: Tronxa de Bacalhau, Pastéis de Bacalhau, Bacalhau com Todos, Bacalhau com Natas.
E ainda sopa, arroz, batatas fritas, a murro, cozidas e ao calhas também.

E claro, o desfile pantagruélico de doces tradicionais e outros adaptados ao gosto dos glutões natalindos: Bolo Rei, Arroz Doce, Filhós, Azevias, Sonhos, Rabanadas, Bolo de Chocolate, Semifrios e muitos outros que ficam por nomear ou que que ficaram por fazer, não por preguiça mas por bom senso.
O destaque guloso do ano vai para o Bolo Rei Escangalhado que o meu estômago apressou-se a arranjar e a acondicionar o melhor que pôde.

E houve ainda as passas, as nozes, as amêndoas, as avelãs, as broas, os vinhos, os licores, os cafés e capuccinos...

E hoje, 26 de Dezembro, assemelho-me perigosamente a um leitão bem redondinho.

Apontar na agenda:
Não passar nos próximos dias pela Mealhada.

The Jungle Bells - 26 Dezembro 2008

O Natal na família Cardoso é um bocadito diferente dos outros Natais.

Para começo de conversa, nós não trocamos prendas, trocamos galhetas e pontapés, porque somos pobres e não temos lareira para nos aquecer neste frio glaciar.
E só gostamos de ver o "Natal dos Hospitais" porque não raras vezes, um de nós vai lá parar no fim da noite.

Nós não fazemos Árvore de Natal com enfeites coloridos ou luzinhas.
Por esta altura preferimos a mui nossa tradição de renovar os imans do frigorífico e trocar as pilhas do aparelho auditivo da prima Micaela por anchovas em conserva.
Porque para nós, Carnaval é quando um Cardoso quiser.

No nosso presépio, os Meninos Jesus pastam musgo e na cabana uma ovelha aguarda as prendas de três presidentes da república gordos, o que contrasta com os vossos três reis magros, magos, ou lá o que é.

Costumamos comer folar porque o ovo cozido faz bem as hemorróidas da tia Alice e assamos sardinhas, entremeadas e couratos no varandim do vizinho Loureiro, um ancião ex-combatente da Primeira Grande Guerra a quem chamamos Varandim Loureiro.

Ainda em relação ao enfardanço, destaque para o Canguru Assado, um pitéu muito disputado por todos e que costuma ser pendurado junto ao cabo de alta tensão.

A corrida ao bicho faz-se de olhos vendados.
Os mais velhos e os que estão nas cadeiras de rodas ficam encarregues de dar lustro às caçadeiras e alvejar os participantes.
É só mimos.

Ah, já me esquecia!
Nós também temos a tradição de esperar que alguém desça pela chaminé, mas neste caso é a nossa avó que é despida e untada com banha de porco e que escorrega como uma maluca para dentro de um caldeirão cheio de arroz doce a ferver.
A velha bem que esperneia, mas depois ainda sabe melhor degustá-la com aquele saborzinho a pânico.

Há muitas outras tradições seguidas com religiosidade pagã na minha família.
Talvez volte a falar nisso na véspera do 17 de Julho, quando estivermos a brindar ao Ano Novo.
O Natal das Patetices - 18 Dezembro 2009

Ora bem.
Depois do sismo que não mandou um bêbedo ao chão, temos desta vez um OVNI avistado no Kremlin.

Um Natal cheio de patetices como estas, é algo há muito desejado no sapatinho.

Chega de filas para comprar brinquedos, guarda-chuvas levados pelo vento, azevias calóricas, árvores de fazer de conta e presépios pejados de ovelhas.
Queremos coisas diferentes, essa é que é essa, e este OVNI veio a calhar.

Há quem diga que tudo não passa do reflexo da câmera de filmar no vidro de um carro, mas o que importa?

Aposto que no Ano Novo vamos engolir 12 passas e desejar com toda a força que o monstro do Loch Ness apareça numa fonte do Rossio.
Só porque sim.

7 comentários:

Anónimo disse...

Que alegria, João Paulo, 4 anos e esse balanço fabuloso! Olha, se não achares abuso vou servir-me de champanhe e morangos. Tu mereces, esta «casa» merece! Hip-hip->Hurra!
Amor,saúde e tesouraria para o teu blogue! À tua, amigo querido!

Rita Ferro

Sun Iou Miou disse...

Fiquei-me pelo Natal de 2008. E pela vontade de espetar no olho de alguém não sei se um dedo se um salami de chocolate.

Parabéns pelos 4 anos!

João Paulo Cardoso disse...

Rita Ferro:

Muito obrigado pela adjectiva parabenização, fazendo votos que esta casa continue merecedor de tão ilustre visita.

"Amor, saúde e tesouraria", que seja.

A última parte dava um jeitão nesta época que mistura consumismo e religião, como se não conseguíssemos sair de uma loja de souvenirs do Vaticano.

Vou continuar a seguir cada linha escrita com a tua assinatura, tenho muito que aprender.

Beijos.

João Paulo Cardoso disse...

Sol da Galiza:

Obrigado pela visita, Maria.

Embora pareça uma frase pouco cristã para esta época, peço-te para guardares o dedo para outras actividades ;)

Refiro-me a lambuzá-lo em todas as coisas boas que por aí vêm, esquecendo balanças e passerelles.

Beijos.

Luísa A. disse...

João Paulo, muitos parabéns por estes divertidíssimos quatro anos (e não menos divertidos, na sua crescente «loucura», Natais). E sempre me hás-de desvendar o segredo da receita das batatas «ao calhas». ;-)))))

ana v. disse...

Parabéns!! 4 anos de Natais chanfrados é obra. Mas tenho um pedido a fazer: este ano, para variar, sugiro que os Cardosos dêm murros, pontapés e tiros fora da família (tenho uma longa lista de nomes sonantes para ajudar à festa), O que achas? Era um favor que nos faziam a todos, e a diversão estava garantida... mas por favor não tirem as pilhas à prima Micaela, ou ela não se diverte nada, coitada!

Beijos e saudades!

Rita Roquette de Vasconcellos disse...

Parabéns
e outros tantos ...
Abraço