10 dezembro 2009

Os Palhaços


Hoje vou falar de palhaços.
Ide então buscar as criancinhas e os vossos maridos.

Há muito que o autor do mais ínfimo disparate é mimoseado com o epíteto circence, possivelmente remanescências de infância, quando passar uma matiné no circo era considerado indispensável momento de carinho parental.
Hoje isso faz-se sem sair de casa, com uma consola de jogos.

Recordações do circo, excepção feita a um belo par de pernas de uma trapezista que ainda hoje é musa inspiradora de vigorosas carícias solitárias, não tenho.
Mas ficou-me, a mim e a quase todos, essa irreprimível vontade de chamar "palhaço" a alguém, nem que seja a um deputado do PS.

A referência ao jargão "és um palhaço!" é uma das bases da cultura lusitana.
E, ao contrário, do que se se pensa, é demonstrativa do nosso elevado grau de civilização, sobretudo se comparado com o americano "you're an asshole", que em português poderá ser traduzido livremente, e com requinte, para "és um orifício anal evacuador do resultado da conversão da chispalhada do almoço em fezes de odor desagradável".

Eu próprio, educado com Sumol de laranja e pastéis de nata, já chamei "palhaço" a um polícia que tinha acabado de me multar, só porque eu trazia uma mula amarrada no tejadilho do carro.
Quando ele fez cara feia, agradeci a todos os deuses pagãos ser Carnaval, já que apontei de imediato para o desfile carnavalesco que passava atrás do sr. agente da autoridade.

Também não esqueço o caso do Viktor, um amigo ucraniano que arranjou a boa e a bonita numa Loja do Cidadão quando lhe foi perguntada a profissão e ele respondeu com um sonoro "palhaço!".
Acontece que ele estava a dizer a verdade, já que na ocasião estagiava no circo Walter Dias.

A verdade é que, tantos e tantos anos depois, não esquecemos os palhaços.
Quer porque temos saudades dos bons circos que não dependiam da exibições de leões brancos, quer porque era uma manhã ou uma tarde sem aulas, quer por aqueles que jamais recuperaram dos traumas relacionados com péssimas piadas, pés grandes e narizes vermelhos.

É o caso do meu sobrinho.
Mas, se ele quiser, tenho guardadas duas ou três fotos de uma sensual trapezista, para que, daqui a uns aninhos, ele seja um dos melhores a espancar o palhaço.

4 comentários:

Anónimo disse...

Ahahahahah! É que há palhaços e palhaços, João Paulo! Maravilha de texto! Foi mesmo a única que conseguiu, ainda que pouco, transformar o estado de espírito suicidário com que acordei hoje! Obrigada por isso, Amigo! (Espreito algumas vezes, mas se comento aqui muito se ofendem. Daí que não comente em ninguém :-) Hata la vista, Amigo. Y que séa pronto! Rita Ferro

João Paulo Cardoso disse...

Rita:

Nesse caso, cada um de nós cumpriu com a sua obrigação.

Eu animei ainda que levemente a Rita e a Rita concedeu a mui nobre excepção de comentar outro blog.

Bem Haja.

E já agora, suicídio seria perder todas as coisas boas que vêm por aí no Natal.

Depois sim, poderemos todos amarrar as balanças ao pescoço e saltar alegremente da Ponte 25 de Abril.

Beijos.

fugidia disse...

Detesto circo, com ou sem palhaços.
Odeio palhaços.
Livra!

:-)

João Paulo Cardoso disse...

Fugidia:

Também não vou à bola com palhaços.

Até porque se fosse ver o meu Sporting, teria sempre a certeza de que os palhaços já lá estavam...

Enfim...

Beijos.